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BRANCA DE GONTA COLAÇO
PORTVGALIA
KniTORA
75, Rua Ôo Carmo. 75
LISBOA
1922
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Cartas de Camillo Castello Branco
a Thomaz Ribeiro
Comp. e iiijp. na Imprensa de Manuel Lvicas Torres
Flua de Diário Noticiat, 5fi e 61 - Lisboa
Cartas de Gamillo
Gastello Branco
a Thomaz Ribeiro
-zznz^ Com um pretacio de =iz=
BRANCA DE GONTA COLAÇO
PORWGALIA
EDITORA
73, Rua do Carmo, 75
LISBOA
1912
PQ
9ZGI
CARTA A MINHA IRMÃ
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in 2010 with funding from
University of Toronto
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Minha adorada Irene:
Permitte que te dirija a ti as Duas Palavras com que
desejo anteceder estas Cartas, que em annos successivos de
amizade mutua. Camillo Castello Branco escreveu ao nosso
querido Pae.
Sem o doce amparo moral da tua companhia, sentir-mc-
hia perdida no maré magnum da publicidade, com ares de
querer pontificar a respeito d'um escriptor que fica tanto
acima da craveira que me é permittido attingir, e seme-
lhante perspectiva não me tenta.
Acerca de Camillo não escreve quem quer, escreve quem
pode, e eu não pertenço a esse numero.
No processo da sua glorificação ante a posteridade, o
meu depoimento nunca poderia ser senão como aquelles de
que nos tribunaes os advogados de accusação prescindem,
e os de defêza também.
£' mais simples não ir ao tribunal.
Conversar comtigo, isso sim ; sorri-me immcnso.
O teu interesse valorisa muito os meus emprehendimen-
tos, c, ao fallar-te, cu nunca sinto aquella sensação que tu
com tanta graça denominas de ficar reprovada n'um exame.
Dada a differença que existe entre as nossas edades, é
impossível que tu te lembres de ter assistido a tudo quanto
eu desejo recordar aqui.
«Conversemos» portanto.
Se algum leitor menos atarefado tiver curiosidade de ou-
vir a nossa palestra, sejabemvindo a ouvil-a ; porem, sede
escutál-a se enfadar, não poderá arguir-me de lhe ter an-
nunciado algum estudo de monta, para afinal lhe fornecer o
pouco substancioso manjar d'esta desataviada prosa.
Antes de se chamar, para a nossa admiração, — Camillo
Castello Branco^ o illustre auctor do Eusébio Macário cha-
mou-se para o nosso terror apenas O Camillo ^ que era como
a elle se referia, na ausência, o nosso Pae ; e como tal, as-
seguro-t'o, a sua notoriedade, a nossos olhos, nada ficou de-
vendo á merecida fama litteraria que disfructa.
O Camillo, telegraphava ; escrevia, partia, chegava, trove-
java, barafustava eternamente, e eternamente ameaçava céus
e terra de dar um tiro na cabeça, com um maldito revolver
que para tão sinistro desígnio trazia sempre na algibeira.
A ameaça d'esse tiro, tinha o condão de congelar de pa-
vor o sangue das nossas veias ; e o caso repetia-se duas,
três, quatro vezes na mêsrna semana, em certas occasiões,
quando a sorte nos não favorecia.
D'ahi. . . os sentimentos que outras creauças nutrem
peio Papão, e pelas bruxas, alimentámol-os nós pelo no-
tável escriptor, que hoje tanto admirámos, entre os astros
da nossa litteratura.
Tu terias três annos, quando muito ; eu, sete . . . pouco
mais. . . Não podiamos comprehender a devoção, o culto
com que os nossos Paes viviam a adivinhar todas as von-
tades e a satisfazer todos os caprichos d'aquelle homem,
que não sabia ameigar-nos, e que, para o nosso minúsculo
entendimento, era apenas o homem mais rabujento e mais
feio de quantos conhecíamos.
Também não podiamos avaliar como elle era desgraçado.
Desgraçado, á maneira romântica, que não pôde aferir-se pela
bitola normal, mas desgraçado em summa.
Devemos reconhecer que a nossa infância talvez tivesse
sido um pouco monótona, á força de amenidade, se O Ca-
millo lhe não houvesse introduzido as variantes de sobre-
salto e permanente mobilisação, em que a sua maneira de
ser era tão fértil.
Ao nosso plácido retiro de Carnaxide, chegava de vez
em quando um telegramma fulminante.
o Camillo resolvera pôr-se a caminho !
Queria que ihe arranjassem, sem demora, uma casa mo-
bilada, sem vizinhos, em determinado bairro ; ou então,
quartos n'uma Pensão ; — logares n'um Hotel, — accomo-
dações, n'uma palavra ; mas tudo logo, immediatamente ; e
que lhe prevenissem médicos . . .
— Adeus, felizes galopadas em fogosas cannas, que tão
céleres nos transportavam pelas carreiras da quinta ! Jogo
dos americanos, e lautos «jantarinhos,» com todo o «arroz
dos telhados» que as nossas gulosas bonecas pudessem ap-
petecer ! . . ,
Era preciso largar tudo, e partir : vir passar semanas in-
termináveis em acanhados andares de Lisboa, (recórdas-te
da Redação d' O Imparcial, na Rua Serpa Pinto ?) e ir to-
das as tardes para casa d'aquellas pessoas tãc graves e tão
temidas, onde não se podia fazer o minimo barulho ...
— E ainda nós considerávamos isso uma fortuna, se o
fatal revolver não surgia, e não havia o trágico ensaio de
suicídio, que tanto nos apavorava,
Quando os ânimos estavam serenos, e a perigosa arma
se mantinha occulta, ao menos, e á falta de melhor, havia
para nós a possibilidade de adormecer em qualquer canto,
depois do jantar, perdendo, na inconsciência da meninice,
a prerogativa de ouvir conversar Camillo Castello Branco e
Souza Martins, António Cândido e Thomaz Ribeiro, e todas
as pessoas illustres que rodeavam o escriptor, quando elle
vinha a Lisboa,
Mas quando havia a scêtia, Deus do Ceu ! . , .
— Que medo o nosso !
— Uma das vezes, foi no Hotel Dar and:
Quando nós entrámos, O CarnUlo, muito excitado, estava
a ralhar não sei com quem, que em vão tentava acalmál-o.
Havia no quarto varias pessoas, mais ou menos conster-
nadas e afflictas.
D, Anna Plácido chegou depois de nós, no peor mo-
mento.
Vinha da rua, muito queixosa e muito susceptibilisáda,
porque uma senhora a quem fora vizitar, creio que sua pa-
renta, a pretexto de estar n'aquella occasião tomando ba-
nho, não a tinha querido receber !
A excitação de Camillo, ouvindo isto, attingiu o paroxis-
mo : — sacou da trágica pistola, e ia apontál-a ao ouvido,.,
quando todos os circunstantes em grita se precipitaram so-
bre êlle, e lh'a arrancaram da mão.
Armou- se uma balbúrdia indescriptivcl !
Tu e eu, com o coração aos saltos e os cabellos em pé,
procurámos refugio atraz de duas avantajadas mallas, no cor-
redor ; e alli nos deixámos ficar, até que a promessa cathe-
gorica de nos levarem directamente para casa, restituiu ás
nossas pernas o perdido movimento.
— Outra vez foi em Bemfica, na casa de Barjona de Frei-
tas, onde o grande escriptor esteve installádo durante algum
tempo.
Sentindo-se peor da vista e com os nervos mais irrita-
dos, palpitou-lhe que D. Anna Plácido tinha tirado as car-
gas do revolver para elle se não matar n'aquelle dia, e re-
solveu «experimentar !»
Todos os protestos foram inúteis, e não houve rogos que
lograssem demovêl-o do seu negregado intuito.
Apontou á parede, e deu ao gatilho.
A arma não disparou !
Descrever o temporal de imprecações e gritos que o
facto desencadeou, é-me impossível.
De resto eu só tive d'elle muito imperfeito conhecimento :
— inda bera a temivel pistola não tinha surgido do montão
de couvre-pieds e sobrepostos casacos com que o friorento
escriptor se envolvia sempre, e já o muro da estrada de Bem-
fica, a considerável distancia, amparava no seu escalavrado
reboco os nossos ânimos desfallecidos . . .
Quando passado algum tempo a nossa mãe nos demoveu
a arriscar a vida voltando para a salla, encontrámos tudo
calmo e *como se nada se tivesse passado ;» e O Camillo,
com a sua palia de seda preta sobre os olhos, os capotes em
ordem sobre os horabros e as mantas acamadas sobre os
joelhos, conversava despreocupadamente, fazendo rir com os
seus ditos o grupo de admiradores que o cercava.
Em Carnaxide, mais tarde, houve outro «ensaio».
Não tinham fim as nossas provações ! . . .
Uma qualidade do celebre romancista que aos nossos ten-
ros annos também não agradava, talvez pelo contraste que
fazia com a maneira de ser do nosso Pae, era a sua impla-
cável mordacidade, ~ o seu perenne sarcasmo.
Aquella scintillante ironia que tantas fulgurações engasta
nos relevos da sua prosa, affiguráva-se-nos desconsoladôra
e corrosiva, quando applicáda a certos casos da vida real.
No dia dos seus anncs, em Março de 89, a academia de
Lisboa organisou uma manifestação de homenagem, que teve
repercussão em todo o paiz.
Os estudantes foram em cortejo levar-lhe uma grande
coroa de louros, com bagas douradas e enorme laço de seda,
coroa que lhe entregaram entre ovações e vivas, muitos
discursos e muito enthusiasmo.
A nós, festa e coroa, deslumbráram-nos !
Calcula pois qual não seria a nossa decepção, na noite
d'esse dia, quando lhe ouvimos dizer para D. Anna Plácido,
em ar de mofa, e no manifesto empenho de ser ouvido por
todos os chamados Íntimos que se achavam presentes :
«Mande levar isso lá para a despensa, — credo* , (e
apontava a coroa) ; — «isto é que se chama dar a um sujeito
tempero por atacado ! . . . »
Todos se riram muito. Tu e eu, sentimos uma vaga des-
consolação . . ,
As creanças não gostam da ironia.
Deus sabe porem se hoje em dia uma das qualidades pe-
las quaes mais admirámos o auclor das Folhas cahidas e
apanhadas na Lama, não é justamente aquella que no
tempo de que te fállo, nos desagradava !
Um pormenor que me parece ignorado pelos biographos
de Camillo, é a estada d'elle em Carnaxide, entre Dezem-
bro de 1887 e Janeiro ou Fevereiro de 1888, salvo erro.
Elle era realmente amigo do nosso Pae.
Aquelle feixe de nervos doentes, ao qual o génio arrancava
tantas scintillações incomparáveis, — natureza extravagante
e desiquilibrada que em tantas occasiões a doença impul-
sionou desordenadamente, gostava de appoiar-se no braço
forte e amigo do auctor do Dom Jayme, e comprazia-se no
trato sempre ameno e amável, que era um dos seus melhores
apanágios.
D'ahi, a procura constante da sua companhia e do seu
auxilio, de que estas cartas dão prova ; — dahi o plano
d'uma estada na Feitoria, a que as cartas se referem, e a
realisação d'uma estada era Carnaxide, facto de que eu me
recordo vagamente, e de que tu não podes, creio, lembrar-te.
Um nosso illustre amigo, que não me auctorisou a no-
meal-o, disse-me uma vez, em conversa, que a alturas tantas
da sua affectuosa convivência com o auctor do Amor de
Perdição, se vira obrigado a desistir d'essa convivência, por
não poderem mais os seus nervos hypersensiveis, a<^uentar o
perenne fluxo e refluxo de exigências contradictorias, com
que Camillo punha a tratos a paciência de quem com elle
convivia,
A muitas pessoas de bôa vontade aconteceu o mesmo,
Thomaz Ribeúo, mantêve-se até á ultima, e a sua cons-
tância nunca fraquejou.
Não sei como nem quando se conheceram.
As minhas reminiscências camillianas esfumam-se entre
as névoas do alvorecer da vida, e já morreram todos os que
poderiam dizer-nos como o facto se deu.
Presumo que foi em S. Miguel de Seide, no anno de
1866, quando Castilho lá foi com Vieira de Castro, vizitar
o grande romancista. *
Nunca leste â referencia que Camillo faz a essa vizita,
^ n'uma divagação do conto Aqaella Casa Triste, que veiu
publicado na Revista Artes e Lettras?
«^Sou um homem feliz e digno de inveja. Tenho sabo-
reado os innocentes deleites que prodigalisam ao seu audi-
tório as quatro bandas musicaes de Landim, Pajião, Rui-
vães e Ouinfões. Quando algum amigo vae alegrar o ermo
de São Miguel de Seide, chamo logo a musica mais deli-
cada, — a de Ruivães, principalmente se o amigo é de Lis-
boa e frequentador de São Carlos.
O sr. Visconde de Castilho e seu filho Eugénio são cha-
mados a depor rieste processo de immortalidade que vou
instaurando ao Jigle e á requinta, principalmente d re-
quinta de Ruivães.
* Foi com effeito em Julho ôe 1866. Documentos cuja cópia me
foi amavelmente offereciõa^ permittiram-me averiguál-o, quanõo o
meu arrazoáõo já estava prompto a entrar na machina.
Não vi o sr. Visconde chorar de prazer, mas observei
Sua Ex.'^ estava commovido quando a requinta assobiava
uns guinchos estridentes da Maria Caxuxa.
Thoniaz Ribeiro^ o poeta eminente, recolhia-se ás vezes,
não ao seu quarto a calafetar os ouvidos, mas ao intimo
da sua alma a fazer viveiro de inspirações.
Eugénio de Castilho, o poeta das phantasías louras,
quer a musica de Ruivães lhe amolentasse a sensibilidade,
quer os rouxinoes das rumarias lhe dessem invejas dos seus
amores, fosse o que fosse, foi assaltado e vencido d' uma
paixão, . .
A musica de Landim, era formosa por seis cornetas de
chaves que executavam valsas e peças theatraes de modo
que se Ducís ouvisse, diria que a opera lyricá balbuciara
os seus primórdios entre as florestas druidicas.
A banda de Fafião competia com a de Guinfões na sus-
tancia das trompas e tròáda das caixas.
A de Ruivães avantajava-se ás três rivaes na delicadeza
das modas e sentimentalismo com que as charamellas res-
piravam o sopro d'aquelles músicos, cujas bochechas pare-
ciam estar cheias de alma e castanhas assadas ...»
Emfím ... o romancista e o poeta conhecêram-se ; foram
grandes amigos, e, um bello dia, Camillo Castello Branco,
para estar próximo do nosso Pae, resolveu passar uns tempos
em Carnaxide, onde parou mez e meio, e de onde acabou por
fugir, uma manhã, n'um accesso da sua terrivel neurasthenia.
Era Carnaxide habitou a casa que amavelmente lhe ce-
deu António Zacharias Marceano Alcântara, honrado indus-
trial de cortumes, casa que ainda hoje existe, transformada,
no terreiro da Egreja, mesmo no coração da aldeia.
Alli se tratou durante algum tempo com o Dr. António
Bossa, que então iniciava a sua carreira médica, dedicando-
se com afinco e êxito a experiências de hypnotismo.
Alli o viu também o nosso bom e querido amigo Dr. José
Joaquim d' Almeida, de Oeiras, o fundador do primeiro Sa-
natório Marítimo em Portugal para creanças, e iniciador do
movimento anti-tuberculoso que tão desvelada, e útil, e inol-
vidável protecção encontrou em Sua Magestade a Rainha
Senhora D, Amélia.
Foi elle, até ao fim da sua vida abençoada, o digno Pre-
sidente da Commissão Executiva da Assistência Nacional
aos Tuberculosos, e creio que só Deus e elle souberam as
angustias e as saudades com que tudo alli recorda os áureos
tempos passados.
Camillo refére-se algumas vezes nas cartas, ao Dr. Bossa
e ao Dr. Almeida, que o vizitou também uma vez em Seide.
como verás.
Em Carnaxide, vizitáram Camillo, — Oliveira Martins, Bar-
jona, Bulhão Pato, Anthero de Quental e António Cândido,
e alli foram também, se a memória me não atraiçoa, Souza
Martins e Manuel Bento de Souza, Thomaz de Carvalho,
May Figueira, e o Dr, Ferrer Farol.
Supponho que Francisco e Fernando Palha, que ao tempo
viviam no Dátundo, lá iriam também ; e, uma vez por outra,
apparecia o original Visconde de Moreira de Rey.
Era sempre muito selecta a sociedade, na salla do sr, Al-
cântara, e muito brilhante a conversa, á qual D. Anna Plá-
cido, alem da sua lhana e carinhosa hospitalidade, bem por-
tuguêza, dava a collaboração do seu incontestável talento, e
da sua illustração pouco vulgar.
Nós duas, minha adorada, é que á força de não poder-
mos apreciar todas aquellas galas intellectuaes, continuáva-
mos a adormecer pelos cantos, emquanto as creádas não
vinham para nos levar.
Nascemos muito tarde !
Fomos creanças, que o mesmo é dizer inconscientes, em-
quanto na sociedade portuguêza brilharam muitas figuras de
que hoje, — salvo raras excepções, — procuraríamos em
vão os equivalentes.
Uma bella manhã, as creadas, açodadas, vieram entregar
ao nosso Pae este bilhete :
Meu Thoma\ :
Estou a cegar. Perdido !
Vou fugir daqui, para me não matar debaixo dos teus
olhos^ e do teu amor.
Teu
Camillo.
Corremos todos anciosos a casa de António Zacharias.
Camillo tinha abalado, ao romper do sol, com D. Anna
Plácido, n'uma carruagem, Carnaxide nunca mais poude or-
gulhar-se de abrigar no seu seio um hospede tão célebre . . .
Estas cartas foram escriptas entre 1873 e 1890, como
verás, nos iníervallos das frequentes idas e vindas do es-
criptor ao Porto e a Lisboa, em dolorosa deambulação atraz
da luz, que lhe fugia.
Tendo o nosso Pae morrido em 1901, só agora me foi
possivel arranjar e classificar os seus papeis.
Encontrei entre elles estas preciosas cartas, n'uma epo-
cha em que o nome de Camillo tão especialmente fascina os
chamados intellectuaes e os não intellectuaes da nossa terra,
e não me julguei no direito de as aferrolhar egoistamente.
Resolvi publicál-as.
Em teu nome e no meu, e amavelmente auctorísáda pela
familia do grande escriptor, offerêço-as como subsidio aos
investigadores da sua vida, e como acepipe aos apreciado-
res do seu inconfundível estylo.
Elias próprias dirão de sua justiça. Creio que não escla-
recem nem complicam nenhum problema, o que constítue
uma grande originalidade, n'um tempo cm que os esclareci-
mentos complicam todos os problemas, e as complicações
tornam problemáticos todos os esclarecimentos.
São muito interessantes, isso sim.
Da penna do auctor da Lacta de Gigantes sahiam sem-
pre chispas, mesmo quando elle despreoccupadamente a ma-
nejava, a conversar com amigos.
Vão publicadas por ordem chronologica, quando teem data.
As que a não teem, nem possuem qualquer referencia ou
indicação que permitta intercalál-as entre essas, reuni-as a
seguir,
A personalidade de Camillo cada vez occupa mais a curio-
sidade publica e a imprensa periódica.
Se todos os que o trazem ao tablado lhe prestam sempre
um grande serviço, e se o leitor d'hoje que conheça pouco
a obra do homem de lettras, e só conheça a poeira que se
tem levantado em volta do seu nome, pode, atravez os com-
mentarios, fazer ideia do que elle era como cinzelador da
prosa e como interprete admirável da graça portuguêza, não
me compete a mim averiguál-o. — Devo suppor que sim,
fazendo justiça a todas as intenções.
O que não soffre duvida, é que, quando elle falia por si,
a sua causa prescinde de elementos alheios para triumphar.
Já fica muito longe, escondido entre as brumas da sau-
dade, o tempo em que O Camillo nos apavorava.
Com o passar dos annos as nossas faculdades foram-se
esclarecendo, a imagem do revolver dissipou-se, e Camillo
Castello Branco foi surgindo e crescendo a nossos olhos, até
abranger a plenitude da nossa admiração.
Não sei se somos muito amigas da sua lembrança. . .
Á amizade implica uma ternura confiante, que o seu modo
do ser, um pouco áspero, nos não consentiria talvez.
Camillo pintava admiravelmente a paixão. Não sei se lo-
grou sempre, nas meias tintas, fazer sentir o enternecimento.
Em todo o caso se o sentimento do nosso coração é dií-
ficil de definir claramente, não ha duvida de que o nosso
espirito se deslumbra ante a arte magnifica do escriptor, e
se ufana de o proclamar.
Como mulheres, devemos ser-lhe gratas. — Se, para o
forte claro- escuro dos seus entrêchos, lhe foi preciso apoucar
alguns caracteres femininos, a verdade é qae elle nunca
deprimiu a mulher, antes, em toda a sua obra, poetisando-a
atravez do amor e do sacrifício, procurou sempre dignificál-a
e elevál-a.
Quando algum acontecimento me surprehende pela sua
inverosimilhança, ou alguma individualidade me espanta
pela sua insensatez, é para Camillo que a minha invocação
se volta irresistivelmente.
E tem o destino determinado que com extraordinária
frequência eu renove o meu preito de homenagem, interro-
gando a sua grande Sombra ;
— «Porque deixa passar tantos pygmeus, sem brandir o
látego fulgurante da sua critica ? . . . »
— «Porquê, ante tantos assumptos que a soUicitam, per-
manece inerte a sua penna incomparável ? . . . »
«Porque não vem commentar isto, Senhor Camillo Cas-
tello Branco ? ? ? . , . »
Perdoa se me alonguei.
Abraço-te com todo o affecto com que sou a
Tua irmã muito amiga
Lisboa, 1921.
Branca de Gonta Colaço.
CARTAS
CARTAS
MEU THOMAZ.
Peço-te com instancia a favor do homem por quem te
pede o outro teu am.°. Esse Caldas é filho de um poeta da
escolta de Bocage. Não o conheço, mas tenho boas informa-
çoens d'elle. Se poderes, colloca-o; se não poderes, lamenta-o.
e abraça o teu
am.° grato
P. S. — Affectos de todos os meus.
Camillo C Br.'
Porto, 6 õe Abril
1873
H
MEU CARO THOMAZ RIBEIRO.
Tomara eu ca os outros volumes das tuas Jornadas.
Anceio o que hade ser todo da índia, porque os realces ori-
ginaes hão de avantajai -o aos que fallarem da tão viajada e
decrépita Europa. A simplicid.'' do teu estylo dá méritos a
este livro, que o tornam estimabilissimo. Sem questão, tu és
poeta de primeira ordem, e prosador de segunda. Em quanto
28
a musa te apojar borbotoens, torrentes de inspiração, não
desças á prosa ignóbil. Cede-a aos aleijadinhos do metro.
Flores, flores, meu caro Thomaz Ribeiro, Não ha quem atire
mais jardins do que tu para cima destas charnecas.
Abraça- te o teu velho e paralytico am.°
C Castello Branco.
Porto 1 õe Dzbr.» Ôe 1873.
III
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
Crês tu que eu, diante da tua crytica de amigo e de su-
perior intelligencia, não resvalaria ao abysmo dos tolos, pe-
dindo uma dessas coisas q tem sido dadas a gente que vale
tanto como eu? Olha, meu filho, eu devo contarte tudo. Qd.*'
o bispo de Vizeu era rei, e me auctorisou a pedir-lhe uma
mercê, pedi-lhe q me fizesse visconde em duas vidas, para
que o meu Jorge fosse a desculpa do desvario do pai. Vol-
vidos dias, disse-me o bispo: «el-rei não lhe dá o titulo q v.
pretende, por q você não é casado, e diz que v. vive em man-
cebia». Não redargui a isto, porque respeitei as vestes prela-
ticias e a purpura monarchica.
Foi ao poder o nosso Sampayo. Pedi ao Castilho que so-
licitasse do Sampayo a mercê modificada só em mim, na hypo-
these q mais tarde a alcançaria p.'' o pequeno. Sampayo res-
pondeu o que quer q fosse ao visconde de Castilho, que
significava uma negativa ; porém, eu não percebi se o rei fora
consultado, se o ministro receava consultal-o. Franqueza ras-
gada, meu caro Thomaz : fiquei envergonhado deante de mim
mesmo : a peor das vergonhas.
Nota, meu am.°, que de Hespanha recebi duas commen-
das, que não uso; o imperador visitou- me (perdoa o desva-
necimt.° que é obrigatório nesta confidencia) e enviou-me a
29
commenda da Rosa, q também não uso. Vexa-me não poder
dizer que esta terra, onde escrevo ha 30 annos, sem a en-
vergonhar, nada me deu, nem das mercês que se compram,
nem dos talheres do orçamt.° que se pagam. Não achas isto,
de uma tristeza quase elegiaca ?
Queres tu dar aos meus filhos a porvindoura consolação
de poderem dizer que seu pai quinhoou das mercês que se
liberalisaram aos bacalhoeiros ricos? Sê padrinho meu e
d'elles. Não te peço que falles, que peças o viscondado ; pede
menos do q isso, menos ainda que o emparelharem- me com
M.*' Roussado ou Ricardo Guim.^'. Nem seq."" barão, visto
que eu os cantei no jantar q tu sabes melhor do que eu. Olha,
filho, nivella-me comtigo, que eu, se se rirem de mim, con-
forto-me ca p.'' dentro dizendo á m.^ democracia que também
tu és conselheiro. Arranja-me isto, que p.* tanto ainda chegam
os meus recursos; e, se as qualid.^' pessoaes o não merece-
rem, exaggera-as, encarece-as tu com o teu amor, com a tua
eloquência. Porém, se nem isso bastar, não te afflijas: dá-me
sempre a condecoração da tua amisade e ama o teu
Porto, Bom Jaròim 860,
16 Õe Dzb". ôe 1873
Camillo Casfello Brr
MEU TH.
Sabes se o nosso Ministro vae ao Paço ? — E' dia de
ElRei dar despacho.
O que tenho p.^ mandar está prompto. Mas o Min.° nada
me mandou dizer.
26/3/74
Teu do C B.
30
V
TH.
Ahi tens o que veiu de caza do Min.°.
Attenta que parte está assignado por ElRei, parte não.
Nada referendado.
Teu do
C B.
VI
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
O barão de Paço Vieira escreve- me d'ahi contentíssimo
com a transferencia. Eu, que te pedi por elle, considero-me
também transferido de Silves, e te abraço com o reconheci-
mento de homem q detesta o figo e a alfarroba.
Se tu conseguisses, meu filho, transferir o meu reuma-
thismo para as articulaçoens tibio-tarsicas dos pretendentes
que te perseguem, farias duas esmolas, uma a ti, e outra ao
teu decrépito am."
Camillo.
Porto, 13 Õe Dzbr" õe 1874.
VII
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Estive em Lx.^ 48 péssimas horas. Não pude ir ver te. A
m." infermid.<^ prostra-me, innegrece-me a alma. Nem a vista
de amigos e homens como tu m'a alumiam. Fugi. Deitei-me;
31
abri o teu livro, o 2." das Viagens, e pude esquecer- me de
mim. Eu t'o agradeço p/ q é bellissimo, está cheio de novid/'
e leva n'isso grande vantagem ao 1.° e m.' ainda t'o agra-
deço por que me absorveu 10 horas, disputando-m'as aos
meus Blue-deuils.
Teu do c.
Camillo
VIII
MEU PRESADISSIMO AMIGO.
Estive ahi 4 dias; reservava -me para te procurar; m.as
metteram-se dois dias san:tif içados: seria inútil procurar- te
na secretaria. Sei q tens casa extra- official ; mas não a conheço.
Depois de te abraçar, perguntar-te-hia se aquella minha pro-
posta á cerca de um livro respeitante ao prior do Crato, e
então aceite pelo governo (por 600$000 reis) mediante a tua
recommendação, estará ainda na memoria dos referidos po-
deres públicos. No caso affirmativo, continual-a-hei, para a
ultimar em março ; se, todavia, o género litterario baixar na
proporção do industrial, levantarei mão d'isto, e carregai a-hei
nas costumadas futilidades. Quando te sobrar tempo, responde
ao teu
^ . , Velho amigo
Coimbra
26 ôe Jan.° 1876
C. Casíello Branco
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
Obrigado. Vou continuar com zelo e vontade o D. António,
Talvez esteja prompto no fim d'abri!, porq tenho de escrever
umas intermissoens românticas das quaes depende o fogo sa-
32
grado... da cosinha. Não me deplores. Lembra-te que sou
portuguez
D'antes scismar que comer.
Corrija-se o Sa de Miranda.
Abraço-te. Mandas-me o 2.° das Viagens ou queres que
eu o compre ?
Teu do c.
Camillo CBr."
Porto, 21 Õe ].o òe 1875.
P. S. — Lembra-me agora dizer-te que não será talvez
publicado o D. Antf por que desconfio que me evolo ás re-
gioens altas como os eíluvios dos pântanos. Estou doentís-
simo. Ha dez noutes que não durmo, e ha vinte dias que me
alimento com café. Tenho 48 annos, 100 volumes escriptos,
mt.*^ cans na alma, mt." trago de injustiça devorado em si-
lencio, e. . . adeus!
X
MEU CARO THOMAZ RIB.
Caminho de Lx.* adoeci e retrogradei. Ia eu repetir-te o
pedido de D. Anna Plácido a favor do p.^ M.^' Corr.^ de
Sampaio p." a igreja de S.*" Maria de Arnoso.
Consegui que o Miguel Máximo o protegesse como ve-
rás da carta inclusa. Agora te rogamos que falles de novo
ao Director geral, e não desampares este negocio. Não posso
mais, meu querido am.°
Teu do c.
Porto
27 ôe Maio
76
Camillo C B.'
33
XI
Seiôe 22
]ulho
1876
MEU PRESADO THOMAZ RIB.»
Lembra-te do p." M.^' Corr." de Sampayo, concorrente á
egreja de SC M.' de Arnoso, no arceb. de Draga.
Ha 2 meses te enviei o beneplácito de Miguel Máximo, o
loquaz.
Se me enganou, Deus lhe perdoe, mas eu não sei se dei-
xarei de levantar- lhe um dos alçapões q conduzem ás immor-
íaHd.^' baixas.
]á que não posso fiar- me n'elle, volto para ti toda a m.^
confiança. Anna Plácido não te escreve por q eu lhe digo que
não te rale. A mim mandas-me bugiar; e a ella sempre tens
de lhe escrever a dizer-lhe q a não mandas bugiar. Ama-íe
o velho am."
Cã mi lio.
XII
MEU QUERIDO THOMAZ
Foi um typho: não me matou de chofre; mas dissolve-me.
Considero-me no primeiro periodo de uma cachexia. E eu
digo como o apostolo: «Cupio dissolvi».
Antes de morrer, preciso dizer-te uma coisa. Eu tinha
um cunhado medico q morreu ha cinco annos. Antes de aca-
bar, escreveu-me pedindo-me que protegesse meus sobrinhos.
São uns rapazes intelligentes : um é um Azevedo Cast.°
Br.°, 1.° official do governo civil de V.* Real ; o outro é estu-
dante premiado em medicina na Universid.^. Havia uma me-
â4
nina q em vida de meu pae casou com um rapaz honesto,
intelligente e pobre chamado Ant.° José Barbosa Resende.
Apresentou-se-me este homem com a recommendação do
sogro moribundo. Eu disse-lhe que se habiHtasse para con-
correr aos togares de escrivão. Assim o fez. A relação, ou
q." q.'^ q seja, coliocou-o entre os primeiros. Isto foi ha um
anno. Quiz pedir-te p.^ elle; mas tive peio, porq te tinha im-
portunado pelo padre Corr.^ Hoje tenho escrúpulo de mor-
rer sem fazer alg.^ diligencia p."* melhorar a sorte de m.**
sobrinha. Recorro a ti. O Snr. Conselheiro Mexia em tempo
fez- me a honra da sua estima. Se S. Ex.* ainda me conhecer,
devolvidos tantos annos, ajunta o meu nome aos teus esfor-
ços. Está vago um logar em Famalicão. Se não poder ser p.*
aqui seja para onde possa ser.
Não posso mais
Abraça-te o teu velho e grato am.°
10 5e M.Ç3
1877
Camillo Cast° Br
XIII
MEU PRESADO AMIGO.
Tinha-me pedido o Alves Matheus q movesse o Fr.'"' Corr.*
de S. Payo a trabalhar a favor de uma camará m.*' de Fam.^"'
Ora eu não sabia se a camará era regeneradora, se q diabo
era. Pedi ao S. Payo, e como o encontrasse já empenhado
no sentido q dizias, disse-lhe que fizesse o q quizesse. Ora
o q elle quer é ir p.^ onde tu o mandares, e vai.
Ha mez e meio que vivo á espera da morte. Expirou-me
nos braços M.*^ Plácido f.° de D. Anna. Tinha 19 annos. Era
aquella eleg.*^ creança que montava um cavalio ao lado da
sege em q tu vinhas com o Castilho. Eu estou cego de cho-
rar; D. Anna encaneceu, e agora m."" a estou ouvindo chorar.
35
Esta casa é uma tristeza sem nome nem esperança de alegria.
Olho insensivelmt.^ p.^ os filhos, e não faço senão chamar o
outro que nunca mais virá beijar-me a face, como fez 10
horas antes de morrer de uma meningite que o arrebatou
em trez dias na Povoa. Sahiu de um baile onde tinha a m."
com q.^ ia casar. Teve um calafrio, e trez dias depois, morto I
Eu peço a Deus que me tire esta paixão, ou me leve pela
infinita misericórdia que deve a tão gr.'*^ desgraçado.
Ads. meu querido Thomaz Rib.°
Creio que não nos veremos mais.
Teu do c,
C. C Br."
XIV
MEU QUERIDO T. RIBEIRO.
Obrigados ambos pela tua carta.
]á quiz levar d'aqui Anna Plácido p.* Lx.* Chegou ao
Porto, e obrigou-me a retroceder. Que faríamos ahi n'um
quarto de hotel, sós, em face um do outro, a fallar do nosso
Manoel ? Aqui, ao menos, ella pode chorar alto, e gastar a
dor, se ella se gasta, pela sua m.""* violência. Crença ! dizes
tu. Isso q é ? Nem se quer creio no destino que traça a es-
piral do inferno dos grandes desgraçados. Posso apenas re-
voltar-me contra o Acaso; mas q é isso também? Abraça-te
o teu
C Cast. Br:
K\J
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO,
Ha dois annos, pouco mais ou menos, me disse em Lisboa
Custodio José Vieira que lhe haviam dito estares tu maguado
36
d*um epigrama que eu te desfechara quando foste chamado
ao ministério. Resposta m.'' «Ha seis mezes que estou na
aldeia. Ainda q eu quizesse fazer ou fizesse epigramas contra
Thomaz Ribeiro não sei que auditório m'os ouvisse ou para
qual auditório os fizesse. Esperarei que T. R. deixe de ser
ministro, e depois lhe direi que não tenho trez amigos como
elle, e que esses poucos poupai- os-hei a injurias, tendo tantos
inimigos a q." as aponte sem desaire nem escrupulos.> Mais
nada. Depois, como teimaste em ser ministro eu sobrestive
no meu propósito de silencio; mas o meu profundo affecto
ao teu coração e ao teu talento nada tinha que ver com o
capricho um pouco romano de não escrever ao ingrato que
ainda me não nomeou almirante nem sequer guarda-marinha-
Agora cá te tenho nos braços em Seide, e todos nós, ve-
lhos e rapazes, festejamos a carta do nosso Thomaz Rib.° de
1866.
Quando te aborreceres de ser ministro vem aqui rusti-
car um dia. Achas homens o Nuno e o Jorge. O primeiro
faia; o segundo mystico. Eu, mt.° velho; D. Anna, mt.**
mudada, triste, e outra desde q lhe morreu o Manoel. Mas,
se aqui vieres, alegra-se provisoriamt.® esta caza.
Apezar de mt.° doente, leio sempre, e escrevo pouco. O
«Cancioneiro» é um debique; se os caricaturistas de Daude-
laire me ladrarem, pode ser isso a m." saúde moral. Eu, sem
vaid.® nem arrogância, desejo a lucta, e não me envaideço
do triumpho. Elles são uns asnos, d'uma ignorância pre-his-
torica, cyclopica, tudo q é tenebrosamt.^ grande.
Adeus. D. Anna diz- te mt."' coisas affectuosas, e eu sou
o teu
T. C.
7/5/79
Camillo C. Branco.
37
XVI
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Estive 24 horas indignado com a idea de que estavas
gravemente doente. Parecia-me isto uma horrenda crueldade
que, se eu tivesse uma grande fé, me tolheria a confiança na
oração, apesar dos grandes milagres justificados pelos Te-
Deum recentes. Abraço- te mt.° mt.° alegre. Temos nesta casa
o Te-Deum da alegria.
20/5/79.
Teu Camillo.
XVII
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
]a ca tenho dez folhas dos teus sanctos e formosos versos.
Fazem-me uma grande tristeza. Parece-me que tenho a ca-
beça de fora da campa para ouvir eccos de uma existência
extincta. A m.^ massa encephalica está passando p.'^ esquisitas
hallucinaçoens. Q.™ me dera ver- te! ]a não posso ir a Lisboa
como ia d'antes alegremt." Se o ministro da justiça te consul-
tar a respt." de despachar Ant.° José Barbosa Resende p.^
escrivão de direito sê propicio a este rapaz q fez p.^ isso
exame ha 3 annos, e p/ falta de patrono não foi despachado.
EUe é cazado com uma m.^ sobr.^ irman do Ant." d'Azevedo
Cast." B." eleito deputado regenerador p.*" V.' Real. Diz-me
este meu sobr." que tarde poderá pedir na sua posição hostil
e inflexível ao governo. Também o creio assim.
Faze o que poderes.
Teu do c.
C. Cast° Branco.
T. c.
6/11/79
38
XVIII
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
O apresentante destas linhas é o Sr. José Augusto Vieira
medico militar e escriptor distincto. Se ja leste as Phototi-
pias do Minho (e só te desculpo se as não leste, a pedido
da Pátria, que, a espaços, te arreda das lettras amenas) não
me leves a mal a recommendação. Peço-te, meu incansável
amigo, que o protejas na pretenção que elle te exporá com o
laconismo com que costuma escrever. De modo que te abro
ensejo a apertares a mão de um bom camarada nesta milí-
cia das lettras em que já tão raras vezes nos encontramos.
Abraça-te o teu
C. Castello Br.*'
Seiõe
25/5/81
XIX
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Aquella creancinha de 1866 caza um destes dias. Talvez
lesses nas gazetas o processo um pouco irregular deste ma-
trimonio. O Nuno é feliz, ao q parece. Rapariga de 16 annos,
não feia e doze contos de renda. Ambos mt.'' ignorantes. Olha
que grande feHcid.^ ó Thomaz Rib,"!
Abraça-te o am.° velho
C. Cast." Brr
39
XX
MEU THOMAZ RIB.»
30/5/81,
Sabes com que alegria és festejado em Seide. Os rapazes
cazam 5/ fr/ Não podes assistir porque o facto sacramental
é mt.° cedo — a menos q não venhas de véspera. Se vieres
no 1." comboyo de 5." encontras na estação do Pinh.° m.*
filha Amélia, o marido Carvalho, e a m.* neta Camilla. Se
vires o grupo, conheces e tens companhia. Na estação de V/.*
Nova espera- vos um trem até á Portella. Lembras -te?
Adeus, meu querido am.°
Responde alguma cousa. Teu C. C. Br°
XXI
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Quando eu ahi te esperava em caza de m.* filha, foi ella
procurada por uma senhora da sua amisade, que lhe pediu a
m." coadjuvação a fim de que tu chamasses para fazer serviço
na corveta Sagres, um seu irmão, tenente da Armada, A.
Gonçalves Pinto Júnior que está em serviço em Faro. A
Amélia disse-me que, se me não custava, q te pedisse, e eu
digo- te que, se podes, faças a vontade a todos 4. O pai deste
tenente é o official superior de marinha Gonçalves que talvez
conheças ahi no Porto.
Anna Plácido está pouco melhor. Adiamos a tua vinda e
não prescindimos dessa fineza. ChampaHmaud escreveu-me
promettendo vir comtigo.
40
Tomo banhos de caldas artificiaes contra as nevralgias e
leio de Senectute de Cicero.
Achei hontem entre a papelada pueril de m.^ nora tras-
lados do D. Jai/me. Mas o mais curioso é não saber ella que
Th. Rib." — o Thomaz Rib.° que ella conheceu no Bom
Jesus — é o auctor do D. Jaime. Imaginava-te talvez um
joven louro de melenas, luneta n'um olho e badine. Que de-
cepção para ti, meu am.° !
Seiôe, 3/7/81 Teu Camillo.
XXII
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
O snr. Manoel Correia de Lacerda portador destas linhas
leva- te com ellas um instante pedido á tua generosidade para
que cooperes com o teu patrocínio para que elle seja no-
meado escripturario do escr.*™ de fazenda em V.* Nova de
Gaya ; e, qd.° não seja possível por ir extemporâneo o pedido,
deseja ser elle um dos amanuenses do caminho de ferro,
logares creados ha pouco e ainda não providos. Este rapaz
é irmão do adorável poeta Narciso de Lacerda. Elle não faz
versos — o que deixa entrever um óptimo empregado bureau-
cratico. Sinto bem não t'o appresentar com esse aleijão por
que sei q.'" tu te disvelas em dar a mão aos que a tem bem
provada na Lyra. Este empenho, meu caro T. Ribeiro, não é
banal nem de mera condescendência.
Peço-te pois com o maior encarecimt." que te consideres
obrigado pela tua velha estima a livrar o snr. Lacerda das
garras do commercio onde elle se sente agonisar na flor dos
annos.
Minha filha communicou-me as difficuld.'* que tens em
41
chamar o Gonçalves para a Corveta. O Chardron ficou de te
fallar sobre o prefacio da reedição que vai fazer do teu livro.
Abraça-te o teu velho am.°
m.'" grato
T. C.
24 7-81
C Cãstello B:
XXIII
MEU PRESADOTHOMAZ RIBEIRO.
Este pedido não é banal. Peço- te que escrevas ao Hintze
sobre a pretenção relativa aos docum.*"^ juntos. O pretendente
é primo da mulher de meu filho Nuno. Se valho comtigo al-
guma cousa, pede com instancia sim ? Estou na Foz e retiro
2.^ feira.
Teu
Camillo C Br:
XXIV
MEU CARO THOMAZ RID.'»
Ainda agora te envio a carta do Lopo Vaz. Um dos trez
logares que pedias p.* o meu afilhado — ou todos trez foram
dados a outros pretendentes. Tive pena do primo da Maria
Isabel, porq. lendo a carta, julgou se despachado. O ministro
quando voltar de Cauterets ja não se lembrará do q promet-
tera, e terá razão. Deus lhe dê saúde, e a ti e a mim, e graça,
ou pelo menos chalaça p.^ o servirmos. Tenho soffrido m.'°
da vista. Desculpa as importunaçoens do teu m.*° am.°
T. C.
5/9/81
C Cãstello Br:
42
XXV
MEU PRESADO AMIGO.
Vi-te de relance na estação do Pinheiro quando vinha
com a m." fam;* para a Foz. Não pude abraçar- te por que
era tarde para me demorar. Logo q o tempo se humanise,
irei ver-te, abraçar- te e pedir-te desculpa de mt.*^ faltas invo-
luntárias. Affectos de toda esta fam.^
Teu do c.
Hotel
Mary Castro
22/10/81
XXVI
C. Casf. Br.
MEU FILHO.
Ahi tens o memorial do primo da Maria Isabel, mulher
do Nuno. Faze o q poderes. Não te roubo tempo. Abraço-ti
Teu do c.
T. C. C. Castello Brr
1 òe Dz.» 81
XXVII
MEU AMIGO.
Quando leste o Cancioneiro alegre decerto te riste dos
commentarios ao poema socialista do D."" Donnas Botto. Eu
cuidei então q elle tivesse morrido.
Está vivo o D.'^ em medicina e bacharel em direito Luiz
Maria de Carvalho Savedra, de Ervedosa do Douro. Elle
43
diz-me que te escrevera quando eras governador civil do
Porto. Este homem não fez vida como medico nem como
jurisconsulto em qt.° teve umas vinhas. Hoje não tem nada -
tem uma livraria e fome. Dá- lhe alguma cousa, por alma dos
homens de lettras que morreram na mizeria. Conheci- o em
Coimbra em 1846. Nós, os caloiros, respeitávamos o seu
aprumo de sábio, o luxo do seu trajar e a soberania clássica
e preponderante dos seus óculos de ouro. Pobre velho! mal
diria eu que elle me havia de dizer, a mim, quase tão pobre
como elle — «não tenho pão» !
Vou sahir do paiz em quanto tu fores ministro d'elle.
Cuidam que eu sou um canudo transmissor das sympathias,
entre ti e os pretendentes. ]a não posso. Deus te ponha d'ahi
para fora ou me leve deste mundo.
T. C.
30/12/81
Teu do c.
C. Castello Br
xxvin
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Não fui abraçar- te ao Porto porque o meu pobre Jorge
fallava mt.° em suicídio, e eu, para o deslocar deste meio das
suas visualid.^', fui para Vianna e levei-o comigo e mais a
lamentável mãe. Voltou melhor: não falia em morrer, mas
está sempre a defender esta these : «que a morte é o único
ceo admissível para os homens infelises.» Com este materia-
lismo é mt.° de recear o desfecho que temo.
Tem saúde e alegria como t'as deseja o teu velho
C CasL Br.''
Seiõe/l 8/8/82
44
XXIX
MEU PREZADO THOMAZ RID."
Demorei a resposta do Donas Boto p/ que so agora a
recebi, por causa da errada direcção q dei á pergunta. Se ti-
veres vagar, lê o ultimo período da carta d'elle, ao qual não
posso responder sem tua auctorisação e sem os teus escla-
recimentos.
Lembra- te do teu velho am.°
C Cast' Bvr
25/1/83
XXX
MEU AM.»
Luis Maria de Carvalho Saavedra Donnas Boto é doutor
em medicina, bacharel em direito, sabe linguas vivas e mortas,
faz maus versos e prosas rasoaveis. Prevendo que tu me
perguntarias o q elle queria, respondeu-me com uma grande
carta de q te envio um fragmt.° pois que estou m.'° doente e
não posso escrever
A D.' meu caro am."
Teu do c.
C. C Br
XXXI
MEU QUERIDO AMIGO.
Não tenho a minima razão de me queixar da descon-
sideração do Sr. D. Luiz, se elle ignora que Mag.^' Cout.°
ficou com os livros que eram destinados a el-rei. Também tu
45
não tens razão para censurar que o Diester ha 18 annos me
dissesse que os livros estavam em casa do M. Cout.Vpor q s.
m. os regeitára, salvo se o Biester mentiu ; mas tanto não
mentiu que os livros nunca chegaram ao conhecim.*° do
Sr. D. Luiz. Seria necessário que o Biester fosse um aulico
da intimid.^ d'elrei p.* lhe ser desairoso revelar o q la ia no
paço. Venho com isto para me justificar de citar o nome do
Biester de modo que a sua memoria te pôs no espirito uma
impressão desagradável. Eu cuidei que não lhe deslusia o
bom caracter. Como não posso rasgar uma carta do meu
querido T, Ribeiro, devolvo-fa.
Escrevi antes de hontem enviando te o requerim.'" do
D. Boto. Estou á espera de que venha um dia regular, a ver
se me transporto p.^ uma casa de saúde, não para me curar,
mas para morrer longe do Jorge que está continuam.^" a
perguntar- me se morro.
Adeus. Custa-me entristecer- te por q te conheço a alma.
8/2/83
Teu mt.° grato
C Cast' Br.'
(Segue a carta be Thomaz Ribeiro a que Camillo se refere na
anterior).
MEU PRESADO CAMILLO.
P.'^ reservada
Eu cometti uma inconfidência de que te peço
perdão.
Chegava eu á Ajuda e dava- me o Sr. D. Luiz
três livros seus com o offerecim.^^ — a Cam.°
Cast." Branco escripto e assinado por elle.
Lembrando-me da tua carta perguntei- lhe se
elle sabia que lhe tinhas, ha tempo, inviado as
tuas obras, disse-me que não. Seg.^^ vez lhe
46
perguntei se o M. Coiit° Was não tinha offe-
recido respondeu- me, espantado da minha in-
sistência, que não costumava faltar á verdade.
Foi-me fácil justificar a mf^ indelicadeza, con-
tando-lhe a verdf e dizendo- lhe onde estavam
os livros que lhe offereceste. Não fallei no
Biester. Já morreu e deveu ao Rei, que m^o re-
commendou instante m.^^ o ultimo pão que o ali-
mentou no final da sua vida. Fosse verdade,
m,*" embora, elle não devia delatar-fo.
Perdoemos aos sepultos.
Muito mal servidos são os Reis ! !
Faze pois o que te parecer, queima os livros
que te invio, mas eu não faço ao Rei a desfeita
de lhe tornar a entregar os livros que elle me
deu com tamanha vontade de q te fossem in-
V lados.
Meu prezado Cam.° não tens ninguém mais
teu am.° nem que te falle mais yerdf do que eu,
que sou ha m.^^ o teu devoto adm°'' e ohg."'°
8 òe Fev."
Thomaz Ribeiro.
XXXII
MEU QUERIDO THOMAZ.
Pelo despacho do es."'"" da fazenda de Chaves p.* o
Porto deve haver uma vaga de 3.".
Lembra-te do M.^' d'Ascensão Espinho, escripturario de
Fam.'""
Teu mt.°
do c.
C. Castello Br.""
47
XXXIII
MEU THOMAZ RIBEIRO.
Começa a felicid.* do Donas Boto aos 70 annos. E' tarde ;
mas ainda lhe restam alguns annos amparados pelo pão que
lhe deste. Elle hade lembrar-se de ti mt.^'' vezes: e, posto q
elle não reze, essas lembranças serão como oraçoens. Bem,
meu caro am,*' Eu, como sou m.^" infeliz (extranho phenomeno !)
alegro-me quando vejo os outros que o são sahirem da m.''
plana. Dizem q a velhice e a desgraça e a infermid.*" são
egoístas. Sancto Deus, como eu seria infeliz, se isto fosse
verd.* !
Teu do c.
T. C.
20/2/83 C. Cast° Br
4
XXXIV
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
Agora, meu querido amigo, nunca te pedirei mais nada
senão q sejas meu am.° até ao fim, e me absolvas da sarai-
vada de cartas pedintes com que ajudei a perturbar a sereni-
dade da tua vida de ministro. Beijo te na face como me fez
ha pouco, o escrivão de fazenda.
Como supplemt." ás minhas infelicid.'^ pathologicas, o Se-
nhor enviou- me uma ophtalmia que so me permitte o uso
moderado de um dos olhos. Anna Plácido queria escrever-te
a agradecer o despacho do amigo do seu filho morto ; mas
prefere poupar- te á leitura de mais uma carta das pessoas
tuas amigas e inolvidavelmt.^ gratas.
Adeus meu quer." Th. Rib."
Teu
T- C. Camillo.
9/1/84
48
XXXV
MEU PRESADO TriOMAZ RIBEIRO.
Necessito urgentemente escrever- te ur/ia carta longa, mas
nem p.* isso tenho saúde. So duas palavras. O meu filho
Jorge, o louco, é filho adulterino. Nada pode herdar. Sanctas
leis! A mãe so pode deixar-lhe a 3.*, não como a filho, mas
a estranho; mas temos 10 contos nominaes em coupons na
mão de m.* filha Amélia. Tratei com a mãe que tu, meu caro
am.", farias eo Jorge doação desta quantia. So assim se pode
garantir o futuro deste desgraçado, se viver. Os coupons hão
de passar a Inscripçoens de assentamt.", com reversão p.* a
mãe ou irmão, se elle morrer prim2Íro. Eu sinto- me no termo
da vida. Se eu morrer, D. Anna escreve-te e tu decerto te
prestarás a esta sancta fraude p.* amparar o meu filho. Elle
ficará assim com 8 contos q chegarão para pagar-lhe um
quarto em um hospital de alienados.
Tinha começado um trabalho de muito fôlego intitulado
O [Zinho do Porto
Processo da besfialid^ ingleza
Exposição a Thomaz Rib!'
p: C. C. B.
Ja o não poderei concluir. A imprensa d'ahi e do Porto
cuida que me incommoda com a troça do viscondado. São
couces que eu ja não posso rebater com o meu ja partido
chicote.
Adeus meu f."
Teu do c.
24/3/84
C. C. Br.'
49
XXXVI
MEU QUERÍDO IKOMAZ RIBEIRO.
Trouxe me grande tranquillid.® a tua carta. Sei que farás
o que a mãe te disser para lhe segurar o futuro que não será
longo. Elle pode ficar com 8 contos de reis, cujo rendimento
chega para as suas moderadas precisoens.
]á está no prelo a Exposição que te faço da bestialidade
ingleza. Mandei tirar 2 exemplares especiaes em formato de
4,° para ti e para o Snr. D. Luiz.
Poupemos o teu tempo, e adeus.
Teu do c.
C. Castello Br
T. C.
27/3/84
XXXVII
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Muito obrigado pelas consoladoras expressoens da tua
carta. As amisades como a tua revigoram e alentam.
Se S. Mag. me desse agora o titulo, sem eu o ter solici-
tado, aceital-o ia para não praticar a grosseira fanfarronice
de o renunciar tendo o eu ja pretendido três vezes como
ElRei sabe e tu também; — aceital-o ia empenhando as mi-
nhas faculdades de trabalho a um editor para poder pagar os
direitos de mercê; porém consultado previamt." por ti, meu
Thomaz, respondo q aceito como titulo supremamt.- honori-
fico querer S. M. concederm'o; mas só isso, por q não tenho
filho algum a q.™ possa utilisar o meu sacrifício aos 58 annos.
O Nuno em q."' decerto pensavas qd." me escreveste não está
5Ò
mt.'' mais longe da sepultura q eu, e até poderá estar mais
perto. O Jorge, bem sabes, ja lá está.
A Sua Mag. e a ti se rende a gratidão indelével do teu
Camillo Casíello Br.'"
T. C.
29/4/84
XXXVIII
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
Jorge, o meu querido doudo, pediu-me q te mandasse a
inclusa poesia. Faço o q elle pede p.' q sei q a lerás com
um sorriso de amoravel compaixão. Por aqui está tudo morto,
envidraçado de gelo; e o meu pobre filho tem na fantasia
flores e mariposas. Se houvesse um Deus em communicação
com as suas desgraçadas creaturas q me permittisse trocar a
m.'"* vida consciente pela deste mentecapto, eu não aceitaria
a troca para não lezar enormissimamt.^ o meu filho.
Qualquer dia vai ahi o Eduardo da Costa Santos com-
mandante de bombeiros, e meu editor, entregar a el-Rei o
exemplar do «General Carlos Ribeiro>. Naturalmt.^ procura-
te, pedindo-te q o apresentes. O snr. D. Luiz conhece-o. Este
Santos tem por el-Rei um fanatismo medieval. Honrado e
valente homem. ]a veio a Seide trez vezes recitar-me umas
palavras q S. M. lhe dirigiu em um jantar no paço do Porto.
Se o Sr. D. Luiz ler o meu folheto, dá-me a sua opinião jun-
tamente com a tua. E adeus meu querido amigo.
Teu do coração
Camillo Castello B.'°
(Seguem os versos a que se refere a carta anterior).
Florinha perfumosa,
que estás no meu jaròim
Concebe á maripoza
A folhinha formoza
Que tinhas para mim.
Jorge Castello Branco.
SI
XXXIX
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Estava para ir a Lisboa o E. da Costa Santos procurar-
te com o livro p.^ o Snr. D. Luiz. Disse-ilie que não fosse
sem q eu primeiramente soubesse quando S. M. poderia re-
cebêl-o. Parece-me que o lucto será impedimento p."* alguns
dias. Dize-me em duas linhas quando elle poderá ir.
Tenho estado mais afflicto que de costume receando que
o Nuno perca a vista em resultado de uma irite. Tem aqui
vindo um especialista do Porto que tem esperanças de que
elle apenas fique cego de um olho. Ha dois mezes veio d'ahi
com tubérculos (dizia o Sz.^ Martins) que felizmt.^ eram ape-
nas uma passageira impermeabilid.^ no pulmão esquerdo.
Depois, appareceu a ophtalmia q é mais seria. De q tem ser-
vido a superabundância de dinheiro áquelle rapaz? Estafou -
se, deteriorou a sua fraca compleição a guiar tiros de cavai-
los. Vi que tiveste em casa um mortuorio. E' triste ver mor-
rer uma creança!
Adeus, meu filho.
Teu do c.
P. S.
C. Cast." Brr
Lembranças de A. Plácido. '
XL
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
5/5/84
Como eu, na minha ultima carta referente ao titulo, te
disse que S. M., e tu também, sabiam que eu pedira trez ve-
Ô2
zes a graça, n'aquelle «tu também» pode involver-se a hypo-
these de q em tempo te escrevi a tal respeito e não achaste
agora a carta em q eu te indicava a denominação do titulo.
Deste modo, fica ElRei entendendo q depois dessa ultima ten-
tativa, a m.* enfermid.e q Jog nieus filhos nos desprenderam
de ambições de regalias, q, p.'* o serem, requerem um certo
contentamt.*'. e, sobre tudo, saúde - esperança de vida. Do
q eu me não desprendo é da muita, muita gratidão a q sua-
vemt,^' me obrigam estas tuas cartas e a boa disposição de
S. M. a meu respeito.
Ainda não recebeste O vinho do Porto (a sêcco) por q
o principiei para 40 paginas e já vai em 90 com as intermit-
tencias humouristicas que me occorrem q.'^^ vejo as provas.
Queria enviar te p.^ tu mandares com alguma dadiva tua
para a Creche uma caixa p.^ rapé antiga de bronze lavrada ;
mas q não pertence perfeitamt.*^ á idade do bronze. Não sei
como hei-de mandal-a aqui deste sertão. Tenciono pedir ao
Costa Santos, o editor, q se encarregue d'isso, se eu poder
ir ao Porto e a kermesse se demorar. Ha mais de 50 dias
que estou de cama á espera de um dia de sol que venha
applacar-me as nevralgias. Vê se dos teus cem annos, em
perspectiva, me cedes 2 ou 3, e contenta-te com 97.
Anna Plácido diz q não te esqueças da sua inalterave
amisade mt,° reconhecida.
O Jorge fez 2 desenhos e dedicou-t'os. E que desenhos !
O Freguez do Albergue tem realismo e o abbaõe lambem
O meu querido doudo lembra-se de ti quando o aguilhoam
as aptidoens artísticas amalgamadas no turbilhão de trevas q
lhe vai na alma. Com.o não lhe posso mentir, mando- te os
desenhos, que não tencionava enviar te. Mas, pensando bem
p.'' q não heide mandar-t'os? Tu tens coração p." recolher
esses farrapos de uma grande intelligencia despedaçada.
Adeus, meu bom Thomaz Ribeiro.
Teu do c.
C. Castello Br°
53
XLI
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
1 1/5/84
A curiosidade publica não dará grande importância ás
Republicas, porq em Portugal a gente seria e valida não
teme a republica por que a considera utopia banal de alguns
Paturots vadios e de poucos homens intelligentes déc/assés
desencadernados. Ainda assim, o q houver brilhantemt.^ his-
tórico no teu trabalho de sociologia comparada hade ter sem-
pre o valor de prelecção histórica.
Um periódico com tal titulo e neste quintal do tio Lopes
a q tu chamaste jarôim, deve ter uma secção predominante
— a do ridiculo. Convém fazer rir o publico á custa de
Arriagas, de Theophilos, Magalhaens Limas, Conceiçoens etc.
Empalados os caudilhos, personalisada a Republica nelles —
sem menospreço da questão doutrinaria — a questão morre
como a lendária Maria Rita. Era esta a secção q eu tomaria
sob m.* responsabilid.e, se eu tivesse saúde, e vivesse perto
desses Aristogitons p.*"* elles me não mandarem a Seide homens
barbaçudos com credenciaes para duellos. A monarchia tem
amigos mt.° intelligentes; mas ainda não entraram na linha
recta do combate com a pelintragem que hostilisa o rei. Os
progressistas tem praticado a censurável insidia de favonear
com o seu silencio e ás vezes com o seu applauso as diatri-
bes do Século e as parlamentares do Arriaga. Sempre assim.
Os mais avançados do liberalismo, os Passos, entraram no
Porto fazendo cauda ao Povoas, em 1846 ou 47. A atitude
dos jornaes liberaes, mas opposicionistas, é a da satisfação
quando a corte é insultada em caricaturas. Girandolas de elo-
gios á graça do Bordalo, a mais chata e desgraciosa fantasia
que ainda viste, não é verd.^ ?
54
Esles diabos nem sequer se fazem perdoar a garotice
pela chalaça.
Voltando ao periódico: se o tomares a peito, creio que
viverá vida modesta, duradoura, mas sem carruagem. Se eu
recuperar a saúde p.*^ um milagre, auxiliar- te-hei quanto eu
souber e poder. Mas o milagre! . . .
O Jorge está peorando. Tem accessos de ódio e falia em
matar. Se houver victimas a primeira hade ser a mãe, por q
era q.i" elle adorava. Hontem lhe disse elle, depois de a in-
sultar: «Não diga nada disto ao papá, por que elle está mt."
velho, não sabe o que diz e descompoem-me». Nunca lhe ra-
lhei, nem tive expressão áspera que lhe dissesse ; apenas lhe
tenho supplicado que não se embriague ; mas elle embriaga-
se por que sente alg."" beneficio com esse acréscimo á de-
mência.
Mandei-te um folheto antigo, q talvez não tivesses visto.
Esse Gonçalves Basto foi o amante da Garrett, em Londres,
que deu causa ao divorcio em 1837. Vou se poder, ámanhan
ao Porto. De lá te mandarei a caixa p.^ a Kermesse.
De todo o coração
teu
C Castello Brr
XLII
^ MEU AMIGO.
Venho pedir-te a fineza de fazeres chegar á mão do
Sr. D. Luiz o exemplar da bagatélla q vae junto com o teu.
Doa saúde te deseja o teu obrigadissimo
C Castello Br."
T. C.
Seiôe 1 õe ]unho 5e 1884
55
XLIII
MEU THOMAZ RIBEIRO.
A tua poesia dos Albergues é uma maravilha. Eu cuidava
que ja não havia faisca de commoção p.^ mim em versos. E'
pois certo que sob a corrente eléctrica do génio não ha cadá-
veres impassíveis.
Não dês importância á carta que te escrevi á cerca do
escr.^'" de Murça. Elle veio aqui e está resignado e quase
feliz.
Teu do c.
Camillo C. Brr
XLIV
MEU AMIGO.
E' preciso cuidado com essa perna. Lembra-te do calca-
nhar d'Achilles, quando te alegra a previsão de assistires ao
teu centenário.
Minha nora, segundo o parecer do medico, está a morrer.
Considero-a perdida; mas por infortuaio d'ella, a sua agonia
talvez se prolongue até ao inverno. A m.'* neta talvez a pre-
ceda. Esta está comigo infelizmt.^
M.^ filha Amélia esteve aqui 10 dias, e ganhou forças
Foi p." o Bussaco, onde esteve 15 dias, e de la regressou a
uma qt.* que tem em Valbom. Parece que se restaurará. A
Camilla, m.^ neta, também estava anemica, e melhorou. A
meu ver, o excessivo estudo contribuiria mt." Tem 16 annos
e falia correntemente francez, inglez e allemão. Forte asneira !
Para que lhe servem tantas linguas, sendo ella uma língua
de ouro, «Chrysostomo» de saias, visto q tem 150 contos?
56
Diz o pai q em qt." ella estuda não namora. Pelos modos,
as 11$ virgens eram polyglottas; mas as sabias modernas não
tem provado bem um matéria de virginismo. Que eu não sei
bem o q tem feito a Canuto. Indaga tu para ensaiarmos uma
statistica.
Aqui estou embrenhado em Seide como auxiliar á pobre
Anna P. nos desgostos por q está passando. Tinha eu immensa
precisão de sahir algum tempo deste meio; mas não devo
nem posso. E' morrer no posto. O Oliv.^ Martins privou-
me do passatempo da questiúncula. Bem cuidei que haveria
grande chinfrim por pt.^ dos sábios dep.^ que avancei a pro-
posição de que os portuguezes nada apprenderam dos jesuí-
tas. Creio que ninguém levantou a luva p,"" entenderem que
eu estava doido. Pois olha q era uma questão bonita. Por
outro lado seria bom p.'' mim, por que eu escrevo sem livros-
Vendi a minha livraria p.^ pagar umas dividas, e não lezar o
pecúlio ao Jorge. Receei q p.' m." morte, o Nuno vendesse a
livraria a pêzo. A's vezes, tenho saudades d'ella ; mas invoco
a reflexão, e applaudo-me por têl-a vendido. Restaura- te de
todo, meu querido amigo, e dá-me uma vez por outra noti-
cias tuas.
Teu velho e gratíssimo am."
10/8/84
XLV
C. Castello Branco.
MEU QUERIDO AMIGO.
Morreu a minha neta. Sobreviveu á mãe 15 dias. Teve
dois mezes de agonia nos braços da avó, e tinha 16 mezes.
Gemeu incessantemt.^ 3 noutes e 3 dias. Quando ouvia fallar
a avó, interrompia os gemidos e abria os olhos. Eu desde
sabbado q não cesso de chorar, se não p.^ sentir estallar-me
o peito de saudade. Anna Plácido não resiste a esta dor.
57
Entretanto o pai nem uma lagrima, nem uma fingida sen-
sibilid.^ se quer. Consola se com os 200 contos q herdou da
filha e da infeliz mulher. Vive em uma das suas quintas ro-
deado de bêbados da m.* baixa condição e dizem me que
trata de se abarregar com uma qualquer mulher na caza que
ainda cheira ao cadáver da esposa. Está gotoso, com uma
cystits procedente da blenorragia e alcoolismo. Ainda ha
pouco veio d'ahi classificado tristemt.^ pelo Sousa Martins.
Despreza todos os conselhos e repelle quem lh'os dá. Per-
dido de todo p.^ a honra, e d'aqui a pouco prostrado paraly-
tico, ou talvez morto.
Aqui tens a m.* vida. Eu sinto-me morrer de desgostos e
de falta de nervos e de sangue. Vou experimentar os ares do
mar. Am.anhan vou p.* a Foz, p.* o Louvre. Dize me alg.*
cousa da tua saúde. E, uma vez por outra, lembra-te dos in-
felizes como o teu
C. Cast." Brr
4.* fr.'
XLVI
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Pela assignatura do telegramma incluso, deves ter cautella,
com as calumnias dos telegraphistas que te compromettem.
Abraço-te pela tua saudação n'um dia amarguradissimo...
como todos os de teu
C CasL Br}
(Segue o telegrama a que se refere a carta anterior).
Camillo Castello Branco
S. Miguel de Seide - Famr"
Ao mestre ao seu digno Director envia boas festas
A Redacção dos Republicanos
58
XLV/II
MEU QUERIDO AMIGO.
]á appello p.^ a Republica a ver se deixas de ser ministro.
O outro meu sob.° q atii é deputado, o ].^ Cast." B.",
pede-me uma carta a favor de um cap.^™ Xavier Machado
— carta de apresentação. Não tenho remédio senão enviar-
lh'a. Comprehendes isto. . . e o resto.
Teu do c.
C Cast. Br."
XLVIII
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
Quando eras governador no Porto, pedi-te não me lembra
o quê a favor de um professor-poeta Henrique Marinho. Não
podeste fazer-lhe o que elle pretendia. Agora me pedem de
novo para que eu obtenha de ti o que na carta inclusa verás.
Tenho a certeza de que protegerás o homem, se estiver na
tua mão esse despacho. O nosso periódico tem leitores ? Es-
tou que o acham seriamt."^ engravatado de mais; mas como
os outros andam em mangas de camisa, pode ser que o leiam
como contraste e anachronismo.
Teu mt.° grato
19/1/85.
C. Castello Br.'"
59
XLIX
MEU QUERIDO AM."
Não te é permitlido, como escriptor e funccionario de pri-
meira plana, descer a pedir subscriptores p.' um periódico.
Eu, por mim, vendia ha poucos annos a propried.^ dos livros
por uma bagatella, para não sollicitar assignaturas ; e hoje
antes de as pedir, se não tivesse editor, morreria silenciosamt.^
de fome ou de tristeza ou de congestão cerebral.
Não podemos fazer nada deste periódico. Nasceu incura-
velmt.^ aleijado — pelo formato, pelas condiçoens de hebdo-
madario — pela falta de noticiarismo diário, pela gravidade da
redacção, pela collaboração revelha e sem interesse litterario,
de alguns amigos, bem intencionados, mas fugidos do Alma-
nack p.^ onde devem regressar.
Estes manuscriptos q hoje me enviaste, e devolvo, são
como os outros. Como heide eu examinar a dentadura de
cavallos dados ? Sabes o anexim. Como se hade refugar a
semsaboria de Mag.^s Cout.°, idiota senil, que acha injusta a
opinião contra ].^ Agost°. de Macedo por q elle tinha talento !
que tem q ver o problemático talento do frade com a sua
vida infame, sobre a qual lavrou sentença a opinião publica ?
E tanta inépcia para nos dizer o nome de uma borbulha q
lhe nasceu na cara. Por ventura, um escripto desta espécie
admitte analyse? E todavia digo -te q o publiques, e m/ os
outros. Eu não me attrevo a magoar o Cordr.", esse bom
homem que tem a immortalid.^ da Douda de Albano, e já
não deve morrer ás mãos truculentas d'um pobre diabo como
eu. Olha, T. Rib.", a m.^ opinião é que te aguentes na l!" serie*
e vejas se podes sem perda acabar com isso. E depois pensa-
remos em uma Revista quinzenal— Politica, litteraria e critica
— com 32 pag. em 8°, na qual eu entrasse com um capt." de
romances, tu com uma revista politica e uma poesia, o Caldas
60
com um art.° de critica litteraria, e, se podesse ser, (pagando-
lhe) a D. M.* Amália com o que quizesse - e m/ alg.'" que
se encarregasse do Carnet Mondain. Assim creio que faría-
mos uma coisa bonita mas lucrativa.
Teu do c.
C C Brr
^\E\J QUERIDO T. RIB."
Amanhan, 5.* fr.", vou p." a Foz (Hotel Mary Castro) com
a m.^ gente. Vae também o Jorge, se o podermos resolver a
deixar o espelho e a cortar um calo. Não te escrevo mt.° por
^ não posso. Os olhos no m.™" estado. Anoitece-me ás 6 da
tarde.
Teu
C. C Br.'
LI
MEU PRESADO TriOMAZ RIBEIRO.
R.^' a tua resposta na Foz onde tenciono demorar-me 8
dias. Estou curando uma nevroze de olhos que me tem mor
tificado. Agradeço-te a promptidão da tua condescendência
em solicitares a graça. Se por parte do ministro houver al-
guma delonga significativa de pouca ou nenhuma vontade,
esperemos que tu sejas ministro.
]a avisei o D. Botto. Amarante tem o rio Tâmega po-
voado das famosas dryades do abbade de Jasente. Que mais
quer um poeta ?
Abraço- te, como teu
C. Cast." Br
^1
LII
MEU THOMAZ RIBEIRO.
Assim como íe enviei o prefacio, te envio o Post-scvi-
ptum da «Maria da Fonte». Peço- te que revejas essa prova,
ou a recommendes á commiseração do Revizor.
Se me não fosses á mão pela philaucia, desejaria ver os
art.*" litterarios (excepto as poesias) q entrarem nas Republi-
cas. Como precisamos de acceitar e não impor a corrente das
ideas, seria bom q o nosso semanário, prevalecendo-se da
seried.^ não descambe em caturra, nem nos retrograde ao
ominoso romantismo. Em appreciação de poesia dou-me por
incapaz. As tuas sei aprecial-as, e p.^ isso m,™° basta-me
vêl as impressas.
Teu do c.
T- C. C. Cast Br."
25 õe março
LIII
MEU QUERIDO T. RIBEIRO.
O expediente de me submetteres a collaboração das «Re-
publicas» não é bom, por q eu regeitaria quase tudo. O diabo
da velhice perverteu- me o paladar de modo que este fastio
intolerante me está sempre levando para leituras estrangeiras
ou para as antigas, se quero achar alguma cousa nova. O
nosso periódico desde o começo apresentou-se mt." engrava-
tado litterariamt.e O José Caldas, greco-latino, com um estylo
másculo e pujante, laudanisou-se para escrever p.' uma gente
que prefere aphrodysiacos ou pelo menos chalaças. Castilho,
com rouxinoes, em pleno inverno, deu-nos uns ares de Me
nalco de tibia sonorosa. Os contos de Lanhoso do Romeu tem
62
o cunho romântico de 1840, e aquiilo ja elle nos impingiu
Irez vezes, m.' ou menos incorrecto. As tuas magestosas poe-
sias faziam mal ao periódico por que davam azo ás confron-
laçoens com o resto. O Xavier Cordeiro está no cydo litte-
rario do Soares Romeu e o Vilhena Barboza é uma petrifi-
cação de velharias saturadas de preconceitos q ha mt." estão
expungidos da sciencia útil. Esse homem p.' força devia ser
uma pessoa notável na Academia.
E o certo é que não temos onde escolher, quando se trata
de um periódico de redacção gratuita. Ou pagar aos raros
como Latino, Ramalho, Eça de Queiroz, etc, ou aceitar essas
empadas requentadas que solicitam a publicidade. Tu não pre-
cisas do meu voto p.'' saberes o q é bom ; mas, bem sei, não
queres ler — nem eu. Deus me livre. Antes queria, se tivesse
saúde, encher o jornal, p-^" me persuadir que o faria melhor
do que elles — e desculpa a basofia.
E estou tão inapto p.* escrever que o medico que imagina
salvar-me impoz-me o preceito de não escrever, nem pensar
alguns mezes. Vou retirar-me de Seide para o alto de uma
serra e viver de leite. Provavelmt.^ não pararei até cahir no
paradeiro final.
Abraço- te com mt.° desejo de ainda te ver uma vez, o
que me parece inexequível. Teu do c.
C Casf. Br."
LIV
MEU QUERIDO AM.
A acção da quimera e a reacção da desgraça. Sempre
assim a m.* vida.
Pelo exame dos especialistas de olhos e*pelas suas appli-
caçoens, desconfio que vou cegar. Espero meu sob.°, o me-
dico ].^ Cast.° Br."' , vindo de V." Real p." me desenganar.
E' o natural resultado de 40 annos de trabalho.
63
Na hypothese provável da cegueira, q será p.* mim, a
morte, sequou-se o manancial dos meus recursos. Ficam os
da mãe dos meus filhos; mas eu não posso nem devo sobre-
carregal-a com o pagamento dos direitos pelo titulo. Por tanto
meu querido T. R. se ainda é tempo, não promovas a obten-
ção da mercê, visto q o Estado não pode dar-m'a gratuita,
nem me quero ins:rever entre os caloteiros da espécie em
questão. Terás o ensejo de agradecer novamt.^ a ElRei, se
em S. Mag.^ como supponho, encontraste boa disposição em
attender-me.
Muito obrigado pelas diligencias que fizeste a bem do
Botto. Para Amarante não vae mal.
Adeus, meu filho. Quem sabe se te escreverei agora a
ult.'' carta ?
Teu do c.
C Casf." Br.'^
S. }oão õa Foz 19 ]unho 85.
LV
MEU QUERIDO AMIGO.
Seiòe, 6.» fr."
Quando suspeitei q os especialistas me consideravam atta-
cado de cataratas ou amaurose, perdi o animo, e não pude
demorar-me na Foz. Precisava ver ainda o Jorge e a mãe.
Vim ler o q tenho sobre doenças de olhos, e parece-me que
o meu soffrimt.° é uma nevrose, e que nos olhos não tenho
lesões irremediáveis. Os especialistas não me disseram q as
tinha; mas examinaram-me demais. Estou animado e volto
amanhan p.* o Porto, e na 2." vou com a m.* fam.^ para a
Foz.
64
Hontem recebi o teu telegramma. A tua resolução de não
desfazer foi boa, se eu recuperar forças p." o trabalho. E,
se as não recuperar, de qualq/ modo me desobrigarei com
o thesouro; comtigo é que não posso, Vejo q ainda não con-
segui aborrecer-te. Se o decreto foi assignado, como presumo,
os jornaes ainda o não sabem. Provavelmt.^ hão de sabel-o
pelo Diário do G. Eu queria arranjar saúde para ir ahi agra-
decer a S. Magestade. Não a espero. Readquirida a vista,
falta me recuperar as pernas. Sustento-me em pé encostado
a duas bengalas. E' um esphacelamento espantoso em 6 mezes.
Se houveres de me escrever, envia a carta para o Hotel
Mary Castro, Foz.
Teu do c.
C Castello Branco
RS.
R.**' agora os parabéns do Bernardo Pindella. Em vista
disto demoro-me aqui até 2.^ fr.^ Não quero apparecer no
Porto quando se discute o mérito do agraciado. Isto não é
bem modéstia: é medo ás trovoadas de lama 'que ali se fazem.
LVI
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Recebo o teu telegramma no Porto, onde vim expor- me
aos especialistas de olhos. Volto p.^ Seide amanhan esperan-
çado na cura.
Quando eu poder, se poder, irei a L-x**. Não irei dizer- te
nada do que devo á tua amisade.
Teu do c.
Camillo C. Brr .
23/6/85
, ^
LVII
MEU QUERIDO THOMAZ RID.»
Escrever a ElRei! Eu sei Ia como isso se faz! Dizeme
como se começa e como se acaba e como se sobscripta. Que
ignorantissimo visconde! O do Granjão e o defunto das Hor-
tas não se veriam em maiores angustias!
Volto p.* a Foz 2.^ feira por causa dos olhos.
Teu do c.
C Cast. Br."
Respondeme, sim?
LVIII
MEU QUERIDO T. RIBR."
Não cheguei a sahir de Seide, por falta de força. Depois
de amanhan envio-te a carta para ElRei. Não vai ja por que
não tinha o papel da tarifa. Se eu podesse ir a Lisboa...
Não imaginas como estou velho e escavacado! Estou no uso
do arsénico, tomado em doses grandes. Parece-me ser um
suicidio encapotado em medicação reconstituinte.
Anna Plácido envia- te mt.""^ affectos. Parece-me que será
brevemente a mãe legitimada do meu, do nosso querido Jorge.
Elle cá está — o anjo da desgraça — na contemplação de
um mundo interno que o faz rir. Assusta-me a sua inappe-
tencia. Alimenta-se mal, e não ouve nem intende preceitos
de hygiene.
Meu adorado am.", adeus.
Teu
T. C.
^'^^^^ C. Castello Br
5
66
LIX
MEU THOMAZ RIBEIRO.
A tua carta de hoje poz duas lagrimas nos olhos de Anna
Plácido. Ha 27 annos que eu a vi chorar outras lagrimas
alegres no dia em q, por amor de mim, perdia fam.^, fortuna
e consideração. Quem então nos viu e hoje nos vê, ella e eu,
dois velhos a guardarem um filho alienado ! Mais dous passos,
mais um lance de olhos ao passado, e estamos na cova, hirtos,
8 dias, mais 8 mezes no esphacello, e depois os romancistas
do século XX a exhumarem-nos e a mentir por nossa conta,
em 8." portuguez, dezenas de volumes. Como os nossos netos
hão de entreter-se comigo, ó Thomaz Ribr.'M Ama o teu
velho
C C. B.
A carta a S. Mag. serviria ?
LX
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Vou sahir moribundo para S. Thyrso. D'aqui a dias la
serei enterrado. Não te verei mais, meu excellente am.°, nem
poderei escrever-te. Nesta carta vae a minha ultima gota de
sangue. Quando eu morrer, aconselha Anna Plácido sobre o
futuro de Jorge. Não cheguei a cazar com ella. Parecia-me
que não devia em art.° de morte conceder a esta senhora o
q os celibatários concedem ás creadas com quem cazam
quando vão morrer. Foi m.^ amante querida 27 annos. Isso
será até ao fim. Desejas saber de que morro ? Desgostos
desgraças, o isolamt." de 20 annos e um trabalho sem re-
pouso. Não fiz caso do deperecimt." dos meus nervos, nem
67
da extrema debilid.'' a q cheguei. Nestes 2 annos finaes deu-
se um phrenesi nevrotico que me fez andar n'uma vertigem
incessante. Afinal, um medico, imagina que poderá salvar-me
levando-me p."" o seu lado. Vou p."" dar alguns dias de espe-
rança a esta pobre senhora; mas sei que morro e morro den-
tro de 8 dias. Ad.^ Thomaz Ribeiro. Guarda no teu coração
a lembrança de um am.° a q.™ tu quizeste ainda levantar a
alma qd.'' o corpo ja não podia com ella.
Camillo Casf. Brr
Seiõe 19 òe Julho 1885.
LXI
MEU QUERIDO AMIGO.
Lembras- te de mim. Bem o vejo nas referencias das «Re-
publicas».
Estive 16 dias em St.° Thyrso. Senti alguma melhora em
parte dos meus padecimt." Cheguei a poder estar quieto, a
sentar- me desfalecido e permanecer n'essa quietação algumas
horas. Alguns dias comi com grande vontade; mas o lavor da
digestão amargurava-me o prazer da gula. Afinal, qd.'' vi que
as vantagens dos primeiros dias eram insidiosas, e que tudo
isto voltava á desgraça de um soffrimt," atroz q a medicina,
rica em nomenclatura, chama neuropathia, regressei a Seide
onde estou desde hontem padecendo como no dia em que
d'aqui sahi. A medicina não pode nada: manda-me distrahir.
Distrahir me eu! que paradoxo! Aconselham-me talvez men-
talmení.-^ um namoro; convirme-hia por ventura alistar-me
no sport; rodear- me de gommeux ricos de anecdotas hila-
riantes... A m." única distracção seria o trabalho; mas eu
não posso escrever e menos ainda pensar. Cravo as mãos na
fronte a ver se suffoco as ideas tristes ; por que um" pensa-
68
mt.° amargo repercute-se-me logo no fogo do ventre e nos
espasmos da garganta. Isto é mortalmt.*^ horrível, meu am."
Não posso mais.
Teu do c.
C. Castello Br°
Seiôe
6/8/85
LXH
MEU THOMAZ RIBEIRO.
A carta estampada nas «Republicas» pode indispor-me
com os fornecedores da herva do Minho — os vigários. Tem
cautella com o meu corpo em qt.° a alma anda por aqui á
cata da sua metempsycose.
Na próxima 5.* feira vamos para a Povoa de Varzim. Os
médicos promettem-me á beira-mar, pelo menos... mais
pescadas.
Se eu viver em novembro, heide ver se posso ser appre-
sentado por ti á sciencia ou á caridade de algum medico de
Lx.'. O q eu queria, meu querido am,°, era q me dessem a
vista que eu tinha ha 4 mezes, para poder trabalhar até mor-
rer. Não me podia ser inflingida maior tortura q isto de não
poder escrever sem grande mortificação.
De resto, qt.° á vida, eu olho serenamente para o desen-
lace fatal. Todo homem, baldeado de miséria em miséria,
tem obrigação de aceitar providencialrat.*-' a morte, quando
um dos queridos da sorte como o Snr. D. Fernando a en-
cara com tão bizarro desprezo, entretendo-se com as coisas
q lhe fizeram amável a vida.
Como tudo isto é triste, Thomaz Ribeiro !
Abraço-te e aos teus filhos.
Teu mt." devedor
Cdmillo.
69
LXIIl
MEU PRESADO TriOMAZ RIBEIRO-
Tenho experimentado algumas melhoras na Povoa de
Varzim : apenas me faltam a vista e as pernas. Promettem-
me os médicos que tudo isto me hade vir do oceano; por
em quanto, Neptuno apenas me tem fornecido algumas tainhas.
Resolvi esperar por todo este inverno as pernas e os olhos.
Por aqui ficarei perto do cemyterio onde está sepultado o
meu Manoel — aquelle formoso rapaz que ha 17 annos cor-
ria comtigo pelas florestas de Seide, e que veio aqui morrer
d'uma febre cerebral em 1877.
Lembra-te do teu
Povoa C Castello Br.'*
22/9/85
LXIV
MEU T. RIBEIRO.
O que tu ahi fizeste meu querido am.° ! que titulo eu ja
possuia tão grande na tua amizade. Beijo- te no rosto.
Volto amanhan p.* Seide mais doente e desanimado.
Teu
C. Castello Br:
24 Òe 7." 85.
• 70*
LXV
MEU CARO T. RIBEIRO.
R.*"' as coisas Académicas — Agradecerei a D. ].^ Asen-
cio a honraria. Espero com anciedade o Othelo do Sr. D.
Luiz. E' mais fácil ser EUe um Shakespeare do q eu um
Sancto.
O octogenário Donnas Botto, q tu collocaste em Aveiro,
pede-me que te supplique que o não transfiram no fim do
Iriennio. E' possivel? Deixem-no ali morrer que não tardará.
Teu do c.
C Cast. Brr
LXVI
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Decerto dirias a ElRei quanto eu apreciaria a fineza de
Sua Magestade enviando-me este livro que vou immediatamt.^
ler, e que d'aqui a trez horas estará lido. Eu te direi a im-
pressão que me deixa. Provavelmt.^ deve ser a que me deixou
a leitura do original, desde que o traductor escreve : Fiz uma
traducção quase litteral. Os livros de Shakespeare, adulte-
rados ou paraphraseados, são como os velhos castellos pho-
tographados e depois coloridos para lhe dar aos musgos o
verde do espinafre, como dizem os francezes.
Quem me dera alguma saúde para ser o portador de duas
palavras humilissimas de agradecimt." a ElRei e a ti. . .
Teu do c.
T. C.
22/1/86 C. Cast." Brr
71
LXVII
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
Apezar da m.'* incapacidade para apreciaçoens tragicolo-
gicas, heide escrever à cerca da fidelíssima versão do Othello,
em um dos próximos n."' dos «Seroens de S. Miguel de
Seide». Tencioho tirar 30 exemplares n'outro papel, formato
e typo. Um exemplar para Sua Magestade, outro p.^ ti, o
terceiro para mim, e os resíantes enviar t'os-ei para os dares
a 27 am.°^ que saibam ler; duvido, porém, q tenhas 27 ami-
gos que saibam ler.
Apesar de mt.° doente, escrevo, e escrevo-íe sempre.
Vi hoje um retrato meu ahi publicado na «Illustração por-
tugueza». Não acredites. Eu não estou tão esphacellado, gra-
ças aos céus! O meu Jorge, que é doudo, vendo o retrato
disse: «E* a copia d'um busto antigo achado n'umas ruinas.»
Momento lúcido. Hontem, ás mesmas horas, de faca em punho
ameaçava matar a mãe. Estamos em cima d'um vulcão. Os
médicos dizem q o recolha ao hospital, e nós preferimos
morrer ás mãos d'elle. Agora ouço a mãe a tocar no piano
não sei q mt.° triste, e elle acompanha-a com a flauta.
Como isto é triste !
Teu do c.
Camillo Cast:' Br.'"
27 1/86
LXVIII
MEU THOMAZ RIBEIRO.
Obrigado pelos teus parabéns. . .
Envio-te 3 folhas impressas do Esboço; mas peço-te 5
72
não mandes transcrever nada sem q o volume esteja completo
em teu poder. Parece-me q t'o enviarei no fim da semana.
Teu
CàmilloC.Bir
O meu editor mandou -me o memorial incluso. Se Sua
Magestade quizesse perdoar á pobre preza. . .
Eu lembrei ao Costa Santos que ElRei obtemperava ás
propostas do Conselho de Estado. Elle redarguiu com a carta
inclusa.
LXIX
MEU QUERIDO AMIGO.
]á não é a primeira carta que se transvia. Pode ser q
outras, de diversa procedência, se hajam perdido; mas não
dou pela falta por que as tuas é q eu espero com interesse.
Tem-se demorado a public.**"' do Hvrinho à cerca do
Othello, por que o editor o poz em má typographia. Da l.*
folha vi 5 provas ! A mim, por causa da nevrose dos olhos,
é-me mt." mais penoso ver uma prova do q escrever o origi-
nal. Espero, porém, q por estes 10 ou 12 dias ahi tenhas a
desvaliosa coisa. Resolvi fazer só uma edição, e não repu-
blicar o trabalho nos Seroens. Exemplares distinctos, apenas
mandei tirar um p.* elrei.
Ha mt.° que eu recommendei ao editor q te enviasse os
Seroens. Mandei- te hontem o 4.** tomo. Não tenho os outros.
N'esse verás a excentricid.® com que me insurjo contra a es-
cola do meu collega e visinho visconde de S. Bento. Se elle
se zangar comigo, e por esse meio viermos a descobrir ver-
dades, passam os viscondes a substituir as comadres, no ve-
lho anexim.
D ou- te uma noticia desagradável. Desconfio de amoUeci-
73
mento cerebral. Estou sempre a dormitar, e difficilmt.^ me
equilibro. Não como, não tenho um momento de bem-estar
da alma ou do corpo. Logo que o tempo o permitta, vou
sahir d'aqui; talvez p.^ o Bom Jesus, onde por em quanto
não está ninguém. As caras humanas fazem-me horror.
O Jorge ja não toca. Entreteve-se meia dúzia de dias a
tocar órgão. Tocava deliciosas tristezas ad libitum. Agora,
se lhe pedem q toque, incolerisa-se. Temos lhe m.'" medo, nos
ataques de íuria.
O Nuno ja deve estar no Rio. Hoje li, com sobresalto, q
os casos de febre- amarella são la mt."'. Encarreguei- o a um
medico meu am."; é natural que elle o mande para S. Paulo.
E, se elle morrer ? Estarei ainda reservado para assistir á
morte dos dois e da mãe? Não o espero. Esta herança da
demência... é uma fatalid.^. Ambos os meus filhos tiveram
quinhão atávico da do avô. Sabes que meu pae morreu doudo,
e m.* avó, e duas m."* tias, e meu tio SimJo, o do Amor de
perdição, doudo era também. Esta herança vem-me dos Cas-
tello Brancos do Guardão, d'onde era m.^ avó. D'esta raça
existem ahi os filhos do Bruschy cazado em 2.*' núpcias com
D. M.' da Luz de Sousa Castello Br.'^". Serão doudos tam-
bém ? Pode ser q não, iniectados pelo sangue fortemt.^ bur-
guez do pai.
Que massada !
Teu
C Cast.' Br
Dom."
LXX
MEU AM." QUERIDO.
Mando te hoje os Volcões de lama. Ja vi 16 pag., em
prova, da apreciação do Othello. O trabalho está concluído.
Dará 80 paginas.
74
Isso da politica está o diabo ! Volcoens de lama por toda
a parte. Meu sobr." José, da Samardan, faria bem se com
uma queixada do Elvino desqueixolasse os outros philisteus.
Teu do c.
C CasC Bvr
LXXI
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Enviei-te hontem 2 ex. do Esboço. Registei-os para ha-
ver mais probabilid.*^ na entrega.
El- Rei decerto acha disforme a cabeça d'esse trabalho
para corpo tão pequeno. Também eu. O assumpto era para
mais comprido fôlego; mas a m."* respiração é já mt.° curta.
Falta- me a sa".de e o contentamt." que se requer para o tra-
balho. Falta- me também um pecúlio de conhecimt."^ especiaes
e de expositores que não tenho, nem consultaria, se os tivesse.
Agora trato de sahir d'aqui para uma serra do Minho.
Mandei comprar um jumento ao campo de Coimbra, e, logo
q elle chegue, partimos os dous por esses montados fora.
Sinto-me bom para Sancho do Quichote que fui ha 30 annos.
S. Magestade decerto te diz que o meu livrinho não está mt.'
máo; porém, tu, vais ter a benevolência am.^ de me dizer o
q EIRei pensa, e não diz, e o que tu pensas e decerto dirás.
Meu filho Nuno ja ahi está no Lazareto. Espero-o d'aqui
a 7 dias. Teve o bom senso de se demorar 5 dias no Rio de
]anr.° O imperador mandou-o chamar.
Adeus meu bom amigo
Teu do c.
3 horas òa manhan
— 6.» fr.»
Ca mil lo.
J75
LXXII
MEU QUERIDO AM."
Amanhan vamos p.'' S. Thyrso, onde mora o medico que
me trata e promette salvar-me. Foi teu collega na camará —
chama-se Soares Ferr.^. Este m.'"° me pediu hoje, a respt." do
juiz Andr.^ o q verás dessa carta. Eu não a pude ler, e tu
não terás m.^ coragem do q eu. Parece q pede licença p.''
tomar posse nos Açores p.' procuração, e depois aposentar-
se. Cita a m.'"'' concessão feita a um falecido Prazeres Soares.
Este Prazeres morreu doudo; o Andr.^ está perto d'isso. A
justiça folgaria com a aposentadoria de ambos.
Se isto for custoso ou inexequível não te incommodes,
nem queiras que o Sr. Barjona me chame importuno.
Ad." m.eu filho.
Teu do c.
C. Cast Br.'
4." fr.«
LXXIII
MEU QUERIDO T. RIBEIRO.
Não sei se posso dar- te parabéns pelo restabelecimt." de
teu filho. Parece-me que a imprensa já teria dado a noticia,
se fosse má.
Venho pedir-te com urgência o favor de pedires ao Sr.
ministro da justiça o segt.^ O juiz de Direito de S. Thyrso,
].e M.'* de Andr.^ é o primeiro a passar p."* a relação dos
Açores; mas elle não pode ir, por que está mt.° doente, e
pede o q varias vezes se pede ao snr. ministro — q promova
o 2.°. Ora, da-se o caso do 2." ter um tão forte desejo de ir,
76
que ja tentou validar no supremo tribunal o seu direito de
primasia pelo facto de ter sido despachado 5 dias antes, sem
com isso derogar a antiguid.^ do outro. Entendes bem o que
eu encarecidamente te pesso e não te descuides por que o
despacho pode apparecer mt.° breve. O pobre valetudinário
tem a certeza de não poder fazer uma viagem.
Quando poderes dize-me que ainda d'esta vez me não
faltou a tua dedicação.
Teu mt.° da alma
Camillo Cast' Br."
4-3-86.
LXXIV
(Confiòencial)
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
Estou no Porto em tratamento dos olhos e por isso não
posso escrever- te. E' Anna Plácido quem te escreve, e por
tanto entra na confidencia.
Tu devias ter promovido que se desse alguma coisa fan-
tástica áquelle edictor Eduardo da Costa Santos, que appre-
sentaste a El-rei. Este homem que era fanático pela monar-
chia e que tem grande influencia sobre os bombeiros de que
é commandante — e portanto trunfo eleitoral — vim encon-
Iral-o muito offendido por multiplicadas injustiças que o seu
partido, o regenerador, lhe tem feito a propósito de coisas lá
da bomba. Alem d'isso encontro-o com tendências a repubH-
canar-se e mais a sua íroupe. Parece-me, ou tenho a certeza
que o meio mais prompto de o repor no seu antigo pé poli-
tico, é conseguires que se lhe dê o habito de S. Thiago,
coisa que facilmente tem conseguido outros sem algum me-
recimt.°, nem manifestação publica de affecto ao Rei como
elle manifestou quando os republicanos projectaram fazer
troça á entrada d'El rei no Porto. Espero que dentro de qua-
77
tro a cinco dias terás de qualquer modo feito saber a mim
para eu lh'o communicar a elle, que sua magestade lhe dá o
habito de S. Thiago.
Diz-me agora o meu secretario, que o Darjona não fa-
zendo caso do teu pedido mandou o pobre Juiz de St." Thirso
para os Açores. Cortaram-lhe a carreira por que o homem
está muito doente e decerto não vai. Se foi a lei que obrigou
o ministro, dura lex.
Adeus.
Teu do coração
C. Cast.'' Brr
LXXV
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
Continuo impossibilitado de escrever.
Documentaste excessivam."' a tua probidade. Não era
preciso tanto nem coisa alguma. Bastava dizeres que a não
promoção do juiz era illegal. Conservo as duas cartas para
mostrar ao teu ex collega Soares Ferreira, medico de St.°
Tirso que foi quem me pediu e me disse ha pouco que o tal
juiz estava a endoidecer. Em tal caso a carreira do homem
de qualquer dos modos estava cortada.
Abraça-te mt.* agradecido o teu impertinente amigo.
P. S.
Não se esqueça da sua velha amiga.
Camillo Castello Branco.
78
LXXVI
MEU QUERIDO AMIGO.
Eu e meu filho mt." gratos á consideração que nos deste.
Mais uma vez me disseste que conseguirias dar-se á ciiapel-
laria Victor & Cout.° do Porto (a universal) as armas de for-
necedora da casa real. Veio elle aqui hoje pedir-me que so-
licitasse essa graça. Se não é mt.° custoso, faze-me esse
favor. A m." critica ao livro de S. M. desagradou p.' emq."
somt.e ao O. Martins, da Provinda. Não sei o q elle disse,
nem me souberam dizer bem o q é. Se a questão for litte-
raria, acceito o debate satisfatoriamente. Vou p.^ o Bom Jesus
fazer comp.'' ao nosso Peito de Carvalho que em carta do
dia 3 me diz ir para lá doente. Pobre e querido amigo, se
tem o (] um medico me disse, e elle chama asthma ! Vou
ver se o posso trazer p."" Seide. Os ares d'aqui são menos
ásperos q os da serra. Reapparecem-me todos os padecimt."'
do anno passado por esta fatal época. A primavera para mim
é toda de mancenilhas. •
Do teu mt." grato
e mt," amigo
Camillo.
LXXVII
MEU QUERIDO AMIGO.
Receberias uma carta em que te pedi licença para a Cha-
pellaria universal de Victor & Cout." poder pôr armas no es-
tabelecimt°. ? Sei q algumas cartas m."*^ são descaminhadas e
receio que a tal em q eu tinha empenho se perdesse. Dá
79
expediente a isto, se poderes. Estive com o Peito no Bom
Jesus. Não o achei mal. Esperava-o aqui amanhan ; mas com
este péssimo tempo vou dizer-lhe q não venha. Seide, qd.°
chove, é detestável.
A «Província» achou-me obscurantista na maneira de ava-
liar o Fausto de Goethe ; mas qt." á versão de el-rei elogiou-a
e deu-me razão. Antes assim. Eu, realmt.'' desconfio da m.'
capacid.^ intellectual qd." duvido e destoo dos panegyristas de
Goethe. Samardan no caso.
Affectos de Anna Plácido.
Não nos esqueças que te somos tão gratos qt.° amigos.
Teu do c.
Camillo.
LXXVIII
MEU AM."
Desconfiando que as m.^* cartas não te chegam á mão,
registo esta.
Pedi-te em uma que solicitasses d'ElRei o perdão de uma
preza. Recebeste-a? Em duas, pedia-te que obtivesses as
armas p."" os chapelleiros do Porto que enviaram o chapeo ao
Sr. D. Luiz. Recebeste- as?
Teu do c.
Camillo.
LXXIX
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
A preza foi indultada e solta. O dever d'ella era ir beijar-
te os pés, e o meu era ir beijar a mão de ElRei. Mas eu
estou peor do que ella estava, por q mal posso mover-me
n'este cárcere de q espero o indulto da morte. Ha dias que
se me figura tudo isto acabado. Meu filho Jorge está soí-
80
frendo mt." — umas agonias q elle diz serem mortaes. O in-
feliz q tracta mal a pobre mãe, qd.° se vê mais affiicto, chama
por ella, e pede-lhe que lhe apalpe o suor frio da testa. Com
que prazer heide eu sentir também o meu suor frio!. . .
Escrevi-te p.* Lisboa sobre um negocio de livros. A boas
horas!
Quando fallares com S. Magestade dizelhe que eu adoro
a sua benevolência para comigo. Adeus, meu bom Thomaz
Ribeiro.
Teu
27/4/86 Camillo.
LXXX
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
Eu sentia aquecer-se-me o pudor litterario quando em
obras estrangeiras lia citaçoens mt." encomiásticas da Histcire
du dix-neuvième siècle de Gervinus, e não conhecia Ger-
vinus nem quem o tivesse no Porto. Como o não encontrasse
nos livreiros portuguezes, encommendei-o p." Pariz. Decorre-
ram seis mezes sem a obra rhegar. Desconfiei que o livreiro
se esquecesse, e encarreguei da encommenda outro livreiro
de Lx.^ N'isto recebo dous exemplares ! e, consultando a m.*
consciência e indiscrição, entendo que me era obrigatório
pagal-os ambos. Um delles, 23 vol. 8" gr. ricamt.® encaderna-
do, como verás da nota inclusa, custoume 37$950 rs. Haverá
ahi algum estudioso que o não tenha e queira comprar ? Ou
as bibliothecas dos ministérios quereriam trocar por esta obra
algumas d'essas que la tem impressas á sua custa ?
Sem figurares, como não te convém, directamt.*^, poderias
por outra pessoa obter a troca, a não haver quem queira
37$950 rs. de sciencia histórica.
Tenho recebido as tuas cartas.
Teu do c.
Camillo.
81
LXXXI
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
Pròvavelmt.' estás em Lisboa.
Enviei, segundo a tua indicação, immediatamt.^ o Gevvi-
nus, haverá 15 dias.
O destinatário não accusou a recepção ; mas isso nada faz
ao caso. N'esta conjunctura fesMval, toda a gente é Pretor, e
coisas da espécie da m."* são todas minimas. Por aqui vou ar-
rastando este frangalho da vida.
Enviei- te o VI tomo dos Seroens p.* Parada de Gonta.
Puz ponto em lettras. Fallencia completa.
Também te pedi que agradecesses por mim também a S,
Magestade o perdão da preza.
Teu mt.° grato
Camillo.
LKXXII
MEU AMIGO MT.» QUERIDO.
O sr. Celestino talvez te dissesse o contheudo da m.* ultima
carta. Eu antes queria livros que dinheiro - livros que pro-
vavelmt.* estão a apodrecer nas cryptas dos ministérios.
Vou retirar-me d'aqui; mas não sei p.* onde. Estou sof-
frendo mt.'' de tudo, sem excepção dos olhos. Está tudo isto
n'um descalabro a q a sciencia chama cachexia senil. Custa-
me m.'° sahir sosinho de caza. D. Anna p/ causa do meu
Jorge não pode acompanhar-me, e eu não tenho mais ninguém
O Jorge tem agora a terrivel vesânia chamada dypsomania
— uma sede insaciável de vinho, e não quer comer. Depois
sâ
a embriaguez sobre a demência é horrorosa. Aqui tens a vida,
e em mim a exemplar coragem de a conservar.
Deseja- te mil venturas o teu
Camillo.
LXXXIII
MEU QUERIDO AMIGO.
O chapelleiro pede de novo a coisa. Diz-me q te escre-
vera ; mas não obtivera resposta. Parece, pois, ser difficil a
concessão. Talvez contra-mina aberta por um rival no officio
e nas armas.
Do ministério do reino nada me deram em» tro:a do «Ger-
vinus». Pouco importa, por q eu ja não posso ler. Daqui a
cego e morto vai pouco.
Deseja- te mil venturas o teu velho
Camillo.
LXXXIV
MEU QUERIDO AM-'
O Jorge está furioso. Espanca os criados e os transeun-
tes. Vou tiral-o d'aqui, fazêl-o esquecer as pessoas que odeia.
Vou para a Povoa de Varzim 4.* fr.'* Dizem-me que o en-
cerre em um hospital. Não posso, ainda que eu venha a ser
a victima de um dos seus accessos. Isto é q é desgraça sem
válvula de respiração. Felizmt.'' appareceu-tne hoje o Nuno
q eu não via ha 7 mezes. Foi um soccorro do ceo nesta affli-
cção de dous velhos, sem m." ninguém.
Teu do c.
C. Cast' Brr
3.» fr.»
83
LXXXV
MEU QUERIDO T. RIBR.»
Tenho saudades das tuas cartas. Figura-se-me que nos
separam as fronteiras da eternidade.
Sabes que o meu Jorge está no hospital dos alienados ?
Foi indispensável a reclusão por evitar-lhe os Ímpetos de fú-
ria. Chegou a bater na mãe.
O primeiro mez, no hospital, dava esperanças, não de cura,
mas de reducção a um estado pacifico. Depois tornaram as
agitaçoens, e as esperanças lá vão. Considero-o morto, per-
dido p.^ a fam.*, q importa o mesmo. Quando parecia soce-
gado, e o Dr. Senna me dizia que era possível regressar a
caza, mandei lá o Nuno como pedra de toque p.'"' avaliar o
estado mental delle a respt." da fam.*. Assim q o viu enfu-
receu-se. Não ha nada a esperar. D'ali a passagem para a
demência é a derivação lógica da doença. Imagina, pois, a tris-
teza d'esta caza, e a deplorável velhice dos pais d'aquelle in-
feliz, menos infeliz do q nós!
A m.* anemia progride. ]á me não sustento em pé, e es-
crevo-te com mt,* difficuldade á luz de 14 castiçaes.
Abraça-te o velho am.''
Ctímillo.
LXXXVl
MEU CARO T. RIBEIRO.
O padecimt." dos olhos não te deve incutir receio de ce-
gueira. Isso é tudo funccionai, como dizem os peritos. Não
ha lezoens. Tenho soffrido essas perversoens nervosas deze-
nas de vezes. Agora já não me afligem. Tens alguma confiança
na dosimetria do Burgraeve ?
Õ4
Parece-me que se tomares cicutina, dois grânulos de manhan
e dous ao deitar, fazes desapparecer a diplopia.
Ha mt/ gente que vê os objectos duplicados logo q se
demore a fital-os. Isso depende da fraqueza de um musculo
que, reiaxandc-se, faz o estrabismo momentâneo. As scintil-
laçoens de q te queixas não assustam nada quando se conti-
nuam a ver os objectos nitidam."' ao longe. Toma a cicuta
Faz-te um pouco Sócrates em Carnaxide.
Queria escrever- te mt.^ mas não posso. Ao perto custa- me
a distinguir os objectos, e nenhuns vidros me auxiliam. E' a
cegueira senil.
Lembra-me á tua família com mt.^ gratidão.
Anna Plácido está mt,*' anemica, e não vai longe. O Jorge,
escrevendo ao Nuno antes de hontem dizia-lhe q «a sua única
esperança era evadir-se do carcere>.
Meu pobre filho !
Teu do c.
Camillo.
LXXXVII
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
Encarreguei o chapelleiro de enviar-te a nota da preten-
são. ]a a deves ter recebido. Perdoa-me a p.*" que tenho
nessa impertinência. Caros nos ficaram os chapeos do nosso
nome. Não ha liberalid.''' que não levem agua. . . no chapeo.
Ha tempos recebi a tal carta, que abriste, do Sr. Celestino. Di-
sia que te entregava os 38$ rs. do Gervinus.
Eu não tenciono fallar mais em fal coisa, e bem me pesa
de te haver occupado. ]a estive para destinar a um azilo os
taes dinheiros ; mas receei melindrar alg."' Por aqui, meu Tho-
maz Ribeiro, as libras não se medem ás razas; mas quando
85
são tão poucas não se lhes sente a falta. Parece-me q o go-
verno está em circumstancias mais apuradas.
Deus o remedeie.
M.*°* affectos desta tua gente mt.° am.* tua
Teu
C. Cast." Brr
LXXXVIII
MEU PREZADO TriOMAZ RIBEIRO.
A Relação do Porto decidiu favoravelmt.e a questão in-
juriosa que uns livreiros francezes poseram ao meu editor e
amigo Eduardo da Costa Santos. Não obstante, a Bohemia
do espirito íicou embargada, por que os livreiros recorreram
p.'' o Supremo Tribunal. Sabes, meu am.", quanto são moro-
sas as decisoens naquella instancia, e também ás vezes incer-
tas as interpretaçoens da lei. Não é crivei que o legalissimo
accordão da Relação seja contraditado pelo S- Tribunal ; mas
a Justiça, como é cega, dá ás vezes quedas desgraçadas.
Suppondo que não devemos recear a confirmação, quero di-
zer a concessão da revista, o q ha mt.° a temer é as delon-
gas na decisão. E' para este caso que eu peço encarecida-
mente a tua protecção ao meu editor e a mim. Elle te dirá
quem são os juizes a quem o processo foi distribuido, e tu
darás mais uma prova da tua sempre generosa dedicação
para o teu
Camillo Castello Br.""
29/12/86
LXXXIX
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO
Dia de reis, 10 da noute
Esteve agora ali fora a Custodia a cantar me os Reis,
86
Ahi vai uma quadra que me ficou:
Viva o nobre visconòe
Que inventou a leitura ;
Nem no ha no munõo egual
Que liie chegue á sua altura.
Somos 2, segundo Custodia. Cadmo que inventou o alpha -
beto, e eu que inventei a leitura. Fenicia e S. Miguel de Seide.
Mandei-lhe dar dez tostoens — direitos de inventor da lei-
tura. Perguntou ao creado se havia noticias tuas; e, logo q.
chegasses, q a mandassem chamar. Parece q tenciona pas-
sar-íe alvará de inventor da poesia. Apressa-te em q.*^ ella
tem aberto o cofre das graças, que não vá outro apanhar-lhe
o diploma.
Teu do coração
Camillo.
KC
MEU QUERIDO T. RIBEIRO.
Os versos que te remetto estão mt." aleijados ? Se estão,
não ha orthopedia, nem a tua, que os endireite. Se por
uma casualidad.** estivessem escorreitos, davafos p.* o teu
jornal, se é que tens um jornal, mas só podem ser publicados
sem assignatura, por q na m.* idade, essas tristezas fazem
rir os homens, e talvez chorar os anjos.
Adeus meu adorado am."
Teu do c.
Camillo.
T. c.
10/1/87
87
XCI
MEU QUERIDO THOMAZ R.
Desaleijaste alguns dos mancos. Deus te conserve illeso
em todas as tuas metrificaçoens tanto corporaes como espiri-
tuaes. Amen. O teu preíacio faz lembrar o penacho do gigante
Qoliath sobre a cabeça de um pigmeu. Bem hajas.
Se souberes que o S. Tribunal decidiu a questão de pro-
pried.^ litteraria a favor do meu editor, envia-me um telegr-
A causa já está na mão do ultimo juiz. Esta rapidez tão pouco
vulgar indica-me que a promoveste tu. M.'° agradecido.
Teu
C Cast.' Br."
XCII
MEU QUERIDO AMIGO.
Dize-me como estás. Não sei o q é feito de ti ha mt."
tempo. Nem a Politica me dá noticias tuas ! Eu, filho, estou
qUase cego. 40 annos de trabalho sem repouso. Ao menos,
estou rico.
Anna Plácido nunca te esquece.
Teu do coração
Camillo.
XCIIÍ
MEU QUERIDO THOMAZ RI3EIR0.
O publicista da «Alvorada» não pediu a ninguém collabo-
ração para o meu ditoso natalício. Annunciou que aceitaria
88
com prazer o q lhe enviassem. Ora tu não viste annuncio tal.
No tal dia funesto dos 61 senti a falta do teu cartão ou telegr. ;
mas senti logo o prazer da vingança, ante- gostando a tua magua
quando te accusasses de esquecim.'" . O que eu queria, qd.° te
escrevi, era saber q não estavas doente. Por estes 3 dias, vou
para a Povoa de Varzim, e vou quase cego.
Por em qt.° é ambliopia ; d'aqui a pouco será amaurose-
Depois, é inevitável o suicídio.
Alegrou-me o desenlace da pendência do José C. Branco.
Foi mais feliz do q eu. A primeira vez q me bati á espada
com o agigantado Ricardo Browne fiquei ferido em uma
perna. Depois do duello, vi que ainda me ficavam 3 pernas
illesas. Meus saudosos 26 annos ! . . .
Adeus, meu filho.
Teu
Camillo C. Br.
T. c.
18/Maio/87
XCIV
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
As eleiçoens de deputado, pelo q resp.'* ao concelho de
Fam.*"", são seguras para o snr. Lopo Vaz, O Nuno ligou-se
ao V. Pindella e está inteiram.'® emancipado dos meus con;
selhos. A influencia q elle exercs não vai alem de 30 votos.
Sei que elle está captivo dos progressistas por que lhe livra-
ram ou promettem livrar 2 recrutas. A politica nas aldeias é
isto. Aqui o maior açabarcador de votos é um abbade q tu
despachaste.
Este que vale 300 eleitoras, tem sido sempre fiel ao teu
nome. Eu, pela m."* p."" , nada valho. A doença tornou- me tão
obscuro e invisível q ninguém aqui me conhece. Anna Plácido
89
vale m.^ que eu; persuado me, porém, que o filho lhe tira os
votos q ella poderia obter.
Escrevo- te quase cego.
Teu do c.
C. Cast. Br:
XCV
QUERIDO THOMAZ RII5EIR0.
Escrevo-te na véspera de sahir p."* Lx.'. Devo ahi estar
com D. Anna e Nuno quarta feira de manhan, HotelfMatta,
no Calhariz.
Ainda se não fez a tolice matrimonial. O nosso pudor de
velhos impediu-nos de ir ante as aras. Queríamos um casamt."
sem test/^ Parece que os cânones se revoltam.
Até lá.
Teu
Camillo.
XCVI
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Dize á Ex.""-^ Senhora D. Carlota que não se dê ao in-
comodo de procurar casa que seria o menos importante dos
muitos incómodos que essa casa devia trazer-lhe.
Creio que D. Anna na carta que hontem te escreveu pin-
tava satisfatoriamente o inexprimivel estado doentio da minha
alma.
Eu sofro aqui muito; porem fora daqui augmenta a gra-
vidade do meu mal, e já não posso enganar me. Entretanto
resolvemos ir a Lisboa, e. procurar as possíveis commodida-
des n'um hotel por qualquer preço que sejam. Se o D.""" Al-
90
meida quizer que eu ahi continue o tratamento, serei dócil
quanto devo sel-o. A bulha dos hotéis não me incomoda
porque estou surdo, e as bellezas architectonicas do edifício não
me fazem falta porque estou cego. Por consequência, estou
aparelhado para tudo.
A tua ultima carta veio confirmar a medida que eu for-
mava da grandeza do teu coração e dessa adorável senhora
a quem pude sugerir sentimentos de caridade.
Quanto ao tratamento, dize ao sr. D." Almeida que eu já
tenho 12 fricções; mas a respeito de banhos somente dois.
O frio que aqui faz explica esta minha hydrophobia.
Teu do coração
Camillo.
Seiòe
29/1/88
XCVII
MEU QUERIDO THOMAZ RID.
Eu estava á tua espera no Porto quando hontem soube
que D. Anna tinha adoecido. Vim a Seide e encontrei-a mal.
Decerto não se restabelece para te recebermos com a alegria
que antevíamos no dia de teus annos. Não venhas, pois, meu
querido amigo, e tem m.'* compaixão do teu
C. Castello Br."
XCVIII
MEU THOMAZ R.
Anna Plácido sente algumas melhoras. Penso em ir p.^
Vizella. Quiz hontem felicitar-te, porem o telegrapho só func-
cionou dep.^ das 4 horas em Fam."™
Abraça-te o teu
Cam.''
91
XCIX
MEU AMIGO.
Não ha luctar contra a íatalidade. Não podes vir, não ve-
nhas. Faço-te justiça. O medico tinha-me dito que em 20 ou
30 dias de tratamento eu teria grandes melhoras vivendo
com a felicidade e serenidade que a tua companhia me dava.
Disse me q fosse comtigo p.* a Feitoria onde elle iria trez
vezes por semana ; e como a Senhora D. Carlota me dissesse
que eu, m.^ mulher e os meus creados podiamos viver em
uma cazinha interiormente separada da tua, alegra-me a es-
perança de ir ali realizar o prognostico do medico. Emfim,
paciência e conformidade com a natureza das coisas.
O teu livro foi vendido aos successores do Chardron por
300 mil reis. Enviaram logo metade do preço q eu aqui te-
nho em ordem de pagamt." p.' ti. A outra quantia deve vir
com a ultima prova. O livro hade estar impresso dentro de
trinta dias. A primeira prova talvez ja venha pelo caminho. Com
ella deves mandar o titulo que ainda não deste ; e o volume
hade ter necessariamt.® 300 pag. no formato do D. Jaime.
Os livreiros disseram que o manuscripto enviado daria ape-
nas cem paginas. Quem tratou este negocio foi o Freitas
Fortuna com o maior zelo possível, e com authorisação mi-
nha. Se te ahi demorares, escreve a João António de Freitas
Fortuna, Ramada Alta p.* q te mande as provas.
Quando á ordem dos 150$000 dize se a deixo estar ou
queres que t'a envie.
Estimo que te restabelleças depressa e nos dês a alegria
da tua vinda. Quanto ao meu estado bastam os telegrammas
enfadonhos e aflictissimos p.'* que o conheças.
Sê feliz e adeus.
Teu mt.° grato
Camillo.
92
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
Aqui esteve quatro horas o Dr. Gama Pinto, uma cara in-
íeligentissima revelando um excellente coração. Conheceu ra-
pidamente o meu deplorável estado e fez- me um bom dis-
curso para me dar a paciência e a resignação com a cegueira.
Depois submetteume a vários exames para se convencer e
me convencer que a minha cegueira resultava dum exgota-
mento nervoso, a que elle não quiz dar o nome de anemia.
Condoido da perturbação em que me viu, porque a sua sen-
tença para mim não tinha appelação nem aggravo, não me pro-
poz, mas acceitou o alvitre de eu ir para Lisboa fazer um
íractamento. Ora o tractamento projectado, consistindo na
dieta, é o mesmo que eu fiz inutilmente 6 mezes.
Não obstante, resolvi ir para Lisboa, terra que abomino
e que na presente estação me seria insupportavel. Não posso
porem ir porque me sinto a tal ponto debilitado que não po-
deria fazer a jornada sem grandes angustias; alem disso mi-
nha mulher está soffendo muito e não poderia accompanhar-me
n'esta via dolorosa. Estão pois perdidas as esperanças que
eu tinha no grande medico cuja sciencia não pode vencer im-
possíveis. Considero-me perdido, e elle também no fundo da
sua consciência e experiência me deve assim considerar. São
impagáveis os favores que te devo a ti, ao Senhor D. Luiz e
a elle; pouco tempo terei de vida para poder esquecel-os, e
poucos infelizes terá havido a quem tantas mãos bemfazejas
se estendessem ; mas a fatalidade é tão forte que nem a tua
grande amizade nem a sciencia do illustre medico nem o braço
Real poderão jamais vencer. Como não posso tolerar a vida
aqui em Seide onde trabalhei 24 annos vou sahir daqui para a
Povoa onde tenciono seguir á risca as prescrições do Dr. Gama
respectivamente á dieta. Nada espero; mas o meu dever é
93
accreditar que n'essas prescrições não havia somente o intuito
de sustentar me a vida amparada na esperança. Segundo o
calculo do notável professor poderei perder a vista completa-
mente ao cabo de 8 mezes.
Se calculo não falha consola-me dizer-te que a minha
vida não terá tão longo prazo, e Deus permitia que eu me não
engane.
Alguns jornaes de Lisboa annunciaram a tua sahida para o
Porto, na noite em que o medico sahia para aqui.
Se cá não vieste para te não affligires fizeste bem por-
que vinhas assistir a um espectáculo doloroso.
Não imaginas como cahiram todos os meus castellos no
ar quando o medico em vez de combater a minha cegueira
tratou de me armar de paciência para toleral-a.
Fez-se na minha alma uma noite escura que nunca mais
terá aurora. E é neste estado siugularmente infeliz que dicto
esta carta pedindo-te que faças saber a Sua Magestade a
minha gratidão para a qual eu não tenho expressões senão
as que eu poderia manifestar dobrando os joelhos deante d'El-
Rei. Ao Snr. Dr. Gama Pinto dirás que eu fiquei compre-
hendendo a profundidade da sua magua por não poder acu-
dir-me. Lembra- me saudoso á Ex.'"* Snr.'^ D. Carlota e aos
teus filhos e não esqueças de me lembrar ao João de Gonta.
Teu do coração
Camillo Castello Brr
5. M. õe Seiôe
5/7/88
Cl
MEU QUERIDO AM."
Recebes hoje uma carta q ditei a Ant.° Vaz de Nápoles,
Eu tive pejo de te dizer que as m.*' posses não me per-
mittem ir fazer tratamt." em Lx." com as commodid.'^^ q. re-
quer a enfermidade. O <] temos é pouco para segurar p.^ m.^
94
morte a subsistência do Jorge n'um hospital. Alem d'isso iria
sacrificar tudo sem resultado, p/ q o Dr. Gama me considera
perdido talvez. E' o que elle te diria, e me não disse a mim
p.' compaixão. Estou cego. Ad.' meu Thomaz.
Teu
Cam."
CII
MEU THOMAZ RIBEIRO.
As cartas q vão juntas foram escriptas hontem com o pro-
pósito de partir hoje p." ahi; mas a noite q passei foi tão
cruel com um pruido herpeteco nas cosias e nos braços,
acompanhado de cephalalgia, q não posso mover-me. Tive, pois,
tempo de pensar na inutilid.^ da jornada, e também na inuti-
lid.« de vir aqui ver- me algum medico. Pela carta q te envio
p.* o Sr. Dr. Bossa verás que a m.* doença está fatal e irre-
mediavelmt.e definida. A perda de vista é a perda geral das
forças, lesoens nervosas incuráveis, q começaram ha mais de
20 annos e estão no ultimo periodo de esphacellamento. Por
tanto, meu filho, não me esperes, nem queiras tornar a ver-me,
assim como eu desejo não ver mais pessoas que amei. O que
eu pediria a Deus, se elle existisse, era que me deixasse ac-
cabar sem a antecipação das trevas, eternas n'esta vida.
Adeus.
Teu mais que am."
Camillo.
cm
MEU PRESADO THOMAZ RIBEIRO.
Eu e minha mulher chegamos a Lisboa quinta feira pela
meia noite. Depois da m.* chegada indagarei onde moras para
95
Anna Plácido ir abraçar a Ex.'"' Sr." D. Carlota e tuas filhas
como deseja; e pedir-te que vás ver-me, provavelmt.^ no meu
leito de dôr. Por emquanto nâo sei dizer-te onde me hospe-
darei.
Teu do coração
Camillo.
CIV
MEU PRESADO THOMAZ RIB."
Quando receberes esta carta estarei em Lx/' no hotel
Francfort. Considero me morto, mas vou. Não vamos p.'' tua
caza p.'" que não a quero constituir em ante-camara da sepul-
tura. Beijo-te o coração pelas tuas sanctas bondades e rara com-
paixão. Peço- te a fineza de entregares a carta ao Sr. Dr. Bossa.
Até lá.
Teu
Cami/lo
CV
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Ao 3" dia de Lx."^ cuidei que endoidecia. No dia em que
me procuraste duas vezes não sahi de caza. Estive sempre
atormentado por uns sujeitos que o porteiro da estalagem
me mettia no quarto, ao passo q a ti e a outros amigos q eu
tanto desejava ver pela ultima vez, dizia q eu estava fora,
Quando tencionávamos ir a tu casa senti me tão doente que
ás 2 da manhan deliberávamos sahir. Aqui tens, meu f." Eu
tencionava dar-te um bocadinho de ferro q trouxe 30 annos
sobre o peito. Ahi t'o mando. Lega o a um dos teus filhos em
q conheceres coração com m.' sentimt.'' para a saudade das
coisas e dos nomes extinctos.
96
Pouco posso ter de vista e de vida. Nem me deram tempo
a ouvir a sentença de um especialista. Talvez fosse melhor.
Não posso mais nem vejo o q te escrevo.
Teu do c.
C Cast. Br."
5.' fr.»
CVI
MEU QUERIDO AMIGO.
Cada dia, peor. A agudeza da vista central q ainda tinha
em Lisboa desappareceu. Suspendi tudo q era remédio. In-
doudeço p.'' que vou cegar inteiramt.^.
Ad.' meu bom T. R.
Dia de festa !
Teu do c.
C C B.
CVII
MEU QUERIDO AM».
Fallas-me em escrever um romance quando ja não tenho
vista p.* escrever uma carta !
Quem sabe se esta é a ultima carta que recebes do teu
^ Camillo C. Brr
Sabbaõo
CVIII
MEU QUERIDO T. RIBEIRO.
E' tarde, meu am.°; mas vem sempre a tempo estes cari-
nhos sanctissimos da tua amizade. Estou sem olhos, sem per-
97
nas, sem cérebro. Isto vae n'um desapoderado galope, e to-
mara eu que o cólera começasse p/ esta casa, visto que é
uma Morte benigna q dispensa grandes agonias.
Beijo os teus filhos, e aperto a mão da ditosa mãe de
dois.
Teu
Camillo.
CIX
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
A minha fatal doença reduziu- me ao silencio dos desgra-
çados que já se envergonham de queixar-se. Estou n'um tra-
tamí." sem esperanças, mas submelto me para que me não
fique o pezar de me ter abandonado á perspectiva da com-
pleta cegueira.
Paliemos dos vivos. Ahi vai meu filho para duas missoens
de que depende o seu futuro, e o da mãe e o do Jorge, e tal-
vez o derradeiro amparo dos meus últimos dias. O Nuno leva
uma carta minha para El- rei. Decerto preciza que tu o apre-
sentes e o salves da perturbação que lhe deve causar um en-
contro desta espécie. Tu verás a carta e ajudarás os meus
rogos com os teus afim de que os meus olhos se não fechem
de todo sem que eu veja o meu filho na posição de protejer
esta pobre familia cahida n'uma dependência a que nunca che-
garia se eu não perdesse os olhos. ]á vês pois, meu caro
Thomaz Ribeiro que o primeiro passo a dar é obter a por-
taria para que o Nuno possa fazer desde já exame elemen-
tar e de instrucção primaria em qualquer Lyceu. Depois, é
mais que tudo preciso que elle seja despachado para o logar
de recebedor que vae ser creado em Lisboa ; e para isso re-
quer-se influencia tão valiosa que eu só vejo na vontade de
S, Magestade a possibilidade de se obter do ministro tão di-
fícil despacho.
98
Se isto que eu te estou pedindo é uma allucinaçao do
meu pobre espirito atormentado corrige tu com os teus con-
selhos este desvario; mas eu creio que tu farás quanto possas
por salvar a minha familia cooperando para que o Nuno seja
despachado. Não sei como vae esta carta. Tenho passado
noites desgraçadissimas e só me sinto viver pela dor, pela de-
sesperação e pela vontade de morrer.
Abraço- te e adeus.
Teu
Camillo.
CX
MEU QUERIDO T. RIBR."
O bilhete era meu. Por falta de vista não reparei que o
cartão era de m.** mulher.
Se a pensão é vergonhosa, não a peças nem lembres, meu
am.° Logo q de todo cegue, suicido-me. Lembrava-me de q
p."" m.® morte a pensão seria continuada á m.** familia. Anna
Plácido viverá pouco ; mas ficaria o meu infeliz Jorge. Qt.° ao
Nuno, esse é relativamt.^ abastado. Com algum fuizo tem de
sobra com que viva honesta e decentem.'® Imaginava em q
não seria aviltante o amparo q me desse o meu paiz. A des-
graça dá uns prismas que os felizes repulsam. Também eu, se
ha 10 annos me vaticinassem este conflicto da doença incu-
rável com a pobreza, eu atiraria comigo a um abysmo p.* me
salvar do opprobrio. A doença quebrou-me os brios, anniqui-
loume. Não me reconheço.
Beija-te as mãos o teu mais grato am.**
Camillo.
P. S.
No emtanto, pede a El- Rei que me proteja. Se S. Mages-
tade manifestar um affecto compadecido por um homem que
99
se gastou nas lides que ElRei conhece, sem lhes conhecer o
travo infernal, eu creio que haverá p.* mim umas migalhas
que sobejam na meza dos q souberam orientar se. Peço-te
mais q tudo algumas palavras de alento, porque não as peço
a m.' ninguém nem tenho quem m'as dê, meu bom am."
CXI
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Como a pensão de meu filho tem de ser votada na camará
alta, venho pedir-te o favor de propor a emenda relativa a
emolumentos e direitos de mercê.
Como verás da carta inclusa, o governo resolvera isentar-me
d'esse pezadissimo ónus; mas na redacção do decreto não
vejo mencionada essa importantissima isenção. Creio que está
ao arbitrio da camará alta propor a emenda, que a outra ca-
mará decerto não regeitará.
Confiadíssimo na tua dedicação não me cohibo de a sol-
licitar mais uma vez.
Continuo a padecer como era natural. As m.""" angustias
e as mesmas esperanças.
Recommenda-nos á Senhora D. Carlota e crê na profunda
gratidão do teu
Camillo.
CXII
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Se não achares inconveniente a carta que te envio remet-
te-a ao teu desgraçado cliente. Sabes tu uma coisa? Eu sou
capaz de apostar que o salvas. Se o salvares, dás-me um bom
quinhão na tua gloria e na tua alegria.
Estou cada vez peior. Tenho trez fricçoens, não ha tempo
loò
ainda de lhes conhecer a vantagem ; mas desconfio que ao
chegar á decima segunda, já não terei vista. O olho esquerdo
está quasi perdido.
Abraça-te o teu do coração
Camillo.
CXIII
MEU QUEKIDO THOMAZ RIBEIRO
Se podes acudir-me nesta m.^ agonia de Domingo, sem
sacrificio da tua saúde, acode me. Eu estou na maior angus-
tia.
Teu
Camillo,
CXIV
THOMAZ RIBEIRO, MEU JSEMFEITOR.
Ainda não ceguei de todo ; mas estou perdido, se me não
acodes. Vem aqui com o doutor Almeida, e leva- me seja para
onde for, meu am.°. Tens defendido tantos desgraçados. De-
fende-me da cegueira, se o milagre se pode fazer.
Estive 8 dias na caza de Saúde, e fugi quando me vi em
trevas. Dá ao meu infortúnio o ultimo socorro.
Escrevo-te para que D. Anna não saiba com q angustia
o faço.
Acode me. Ao menos q venha o doutor Almeida ver o
meu estado.
Teu
Camillo.
3 ' U:\
101
cxv
MEU THOMAZ.
Estou a cegar. Perdido ! Vou fugir d'aqui p."* me não ma-
lar debaixo dos teus olhos e do teu amor.
Teu
Cam."
CXVI
MEU QUERIDO T. RIBR."
Muito, muito, muito obrigado. Abriste as portas da vida a
um homem que te pode ser grato, e uma honra das lettras.
Escrevo-(e commovido. Eu choro quando concorro p.^ a fe-
licid.' de alguém. A m.'^ já não me importa.
Teu
Camillo.
CXVII
MEU QUERIDO AMIGO-
Muito obrigado. Lembrei- te, lembraste o teu pobre Ca-
millo, no meio das luas alegrias de fam.^ Aqui estou muito
triste, ml." doente, e muito certo de q Deus me dispensará
depressa.
Esteve aqui hontem o Guilhermino de Barros a ler-me
soberbos versos do livro «Cantos do fim do século».
Eu estava a tremer de frio e dores na cama. Cheguei a
aquecer, e a esquecer as nevralgias. As poesias panegyricas
102
de M.**' Passos e de Garrett são dois monumentos. Eu não
imaginava o Guilhermino capaz de tanto. Que rijo cérebro
aos 55 annos!
Affectos meus mt.*" cordeaes á tua familia.
Teu
Camillo.
CXVIII
MEU PREZADO AMIGO.
Tive noticias dos teus encommodos pela Senhora D. Car-
lota e pelos jornaes.
Felizmente creio que se dissiparam.
Eu estou na cama em trevas cerradas e cortado de dores.
Se houvesse Deus eu ja devia ter morrido pelo muito que
lhe peço a morte.
Não contribuo para o jornal contra a Inglaterra, por que
não sou inimigo dos inglezes. Encontro- os com os primeiros
Affonsos a conquistar o Sul de Portugal; acheios em Alju-
barrota defendendo os falsos direitos do Mestre d'Avis con-
tra D. João de Castella; encontrei-os em frente de Lisboa
deffendendo os direitos do rei portuguez D. António contra
Filippe 2.°. No terramoto de 1755, Inglaterra remetteu á de-
solada Lisboa uma frota com donativos superiores a quinhen-
tos mil cruzados. Acho os inglezes ligados a Portugal contra
Napoleão e empenhados em restituírem D. João 6.° ao trono.
Encontro ainda, nos nossos dias, os inglezes por mar e por
terra batendo as forças do usurpador D. Miguel. Estes factos
não'^me irritam patrioticam.'* contra Inglaterra.
Quanto aos mckololcs, sabes de mais que nò fim do rei-
nado de! D. Jcão S.*" €ram já perdidas as linhas hydrcgraphicas
da Africa. Depois Alcácer Kibir nem portuguezes nem hes-
panhoes pensaram mais nos cafres. Depois de 1640 nunca lá
se mandou missionários, nem protecção nem educação. Tudo
103
aquillo prescreveu como se a vaga de dois séculos lamoesse
os areaes onde foram escriptos os direitos de Portugal.
Basta, que a minha amanuense deve estar fatigada.
Em harmonia com um pedido feito por minha mulher á
Senhora D. Carlota, peço-te a fineza de me enviares o tri-
mestre da pensão logo que o teu Ex.™" compadre o tenha re-
cebido com a tua assignatura a meu rogo.
Do teu
Camillo.
CXIX
MEU QUERIDO THOMAZ RIBEIRO.
Praza a Deus que a tua filha esteja restabelecida, e o teu
coração tranquillo. O meu poema intitula -se Extermínio da
Inglaterra, Trovas alegres por C. C. B. Contem 650 ver-
sos repartidos em quadras. Ha-de ter um prefacio e notas
Deve dar um volume de 80 paginas em oitavo pequeno com
3 quadrjs por pagina. Se achares um editor que me dê du-
zentos mil réis pela propriedade, trato de organizar os cantos
que por emquanto se acham dispersos. Poderás então, no cazo
de haver ahi comprador, escolher para o Mensageiro os tre-
xos que quizeres.
Peço-te encarecidamente que perguntes ao Dr. Rebello
da Silva se, no cazo de completa cegueira em que me encon "
tro, deverei continuar algum tratamento. Estou que elle te res-
ponderá conscienciozamente que me rezigne, ou que morra-
Não tenho palavras com que te exprima a vida atroz que me
está despedaçando. Quando souberes que eu morri, alegra te.
Teu do coração
Camillo Castello Branco.
104
cxx
MEU THOMAZ.
A ti e ao snr. Conselheiro Margiochi muito agradeço o
favor de acreditarem que eu não fui um inquilino insolvente
e fugitivo. Este conceito era para mim mais doloroso que a
iniquidade da execução judicial. Ouvi ler os teus eruditos, jo-
cosos e ás vezes trágicos versos. Estás na juventude do gé-
nio. Serás até á velhice poeta como Garrett ; mas não pinta-
rás o bigode nem farás madrigaes. Tenho peorado quanto é
possível para crer no beneficio da morte. Rogo-te que nunca
te esqueças de meu filho Jorge que tanta compaixão te ins-
pira. Logo que a mãi lhe falte só terá a tua protecção. Re-
commenda-me á Snr."' D. Carlota, ao João de Gonta, e ás
tuas adoráveis filhas.
Teu
S. Miguel õe SeiÕe
16/6/90
Camillo.
NOTAS
Obtida autorização da Ex.""* Senhora D. Branca de
Gonta Colaço, encarregou-mc o editor de fazer algumas no-
tas às cartas que constituem este livro. Aceitei o encargo
porque os meus conhecimentos da matéria, como as espé-
cies da minha colecção, estão sempre à disposição de quem
se me dirija, seja quem íôr.
E nada há que agradecer. O meu procedimento tem um
único fim — o de concorrer, quanto possível, para o estudo
da vida e da obra de Camillo.
As notas são de simples esclarecimento sobre pessoas
e factos de que tratam as cartas.
Assim, sendo úteis para quem souber menos do que eu,
nenhum mal farão aos que saibam o mesmo ou mais.
A estes últimos peço que emendem os meus erros,
pondo inteiramente de parte a minha pessoa e tendo em
vista apenas aquele fim.
Terão os meus sinceros agradecimentos os que, desse
modo, aperfeiçoarem este trabalho.
Monte Aguòo, 1922.
/. D. C
NOTAS
(/k numeração õas notas corresponDe á da$ cartas)
III
E' esta carta de 1873 e por ela se vê que já por esse
tempo Camillo pensara em obter o título de visconde, idea
que, segundo a carta, tinha abandonado para o não empa-
relharem com o Manuel Roussado ou R. Guimarães.
O primeiro é o conhecido escritor humorístico que foi
agraciado com o título de Barão de Roussado e morreu sendo
cônsul de Portugal em Liverpool.
Em 1862 publicou o seu poema cómico Roberto, paródia
ao D. Jayme, de Thomaz Ribeiro. Desse poema tratou Ca-
millo na Revista Contemporânea (IV, 415). numa das car-
tas a Ernesto Biesíer, reproduzidas em 1865 nos Esboços
de Apreciações Litterarias.
A crítica de Camillo foi também publicada na 2." ed. do
Roberto, em 1867.
Roussado é também um dos poetas que figuram no Can-
cioneiro Alegre.
O segundo é Ricardo (Augusto Pereira) Guimarães, Vis-
conde de Benalcanfor,
Refere-se a Cam.illo cm alguns dos seus livros e espe-
110
cialmente no intitulado Phantasiãs e Escviptores Contem-
porâneos (1874) em que lhe consagrou um capítulo.
Em 1884, Camillo dedicou-lhe o opúsculo O General
Carlos Ribeiro.
Na carta lê se este período: «Nem sequer barão, visto
que eu os cantei no jantar q tu sabes melhor do que eu.»
Trata- se da poesia Um jantar de baroens, que faz parte
do folheto Folhas Cahidas, apanhadas na lama, publicado
em 1854, e que foi reproduzida no Cancioneiro como da
autoria dum Anonymo.
VI
Fala Camillo do contentamento do Barão de Paço Vieira
com a sua transferência.
Pouco antes escrevera àquele titular, Dr. José Joaquim
Vieira, então juiz de direito em Silves e mais tarde juiz e pre-
sidente da Relação do Porto, o seguinte : «Dize me como te
vais conformando com a desgraça e se devo recommendar-te
ao Fios Sanctorum do século XIX.»
A desgraça era a estada em Silves de onde finalmente
foi transferido o Barão de Paço Vieira.
A carta a que pertence o período transcrito está publicada
no opúsculo Cartas de Camillo (1917), do sr. Conde de Paço
Vieira.
São 29 as cartas e acompanhadas de muito interessantes
notas do sr. Conde que é um dedicado admirador de Camillo.
VIII
Vê se nesta carta que Camillo chegou a propor ao governo
um contracto para a publicação do livro sobre o Prior do
Crato. Nada sei a tal respeito, além do que diz a carta.
Sobre o projectado livro veja -se a nota seguinte.
111
IX
Mostra esta caria que já em 1875 Camillo projectava um
livro sobre o Prior do Crato, de cuja realização duvida logo
no P. S.
Durante muitos anos pensou e trabalhou nessa obra, de
que apenas publicou fragmentos no Sentimentalismo e His-
toria e no D. Luiz de Portugal. No prefácio deste opúsculo
diz que não poderá concluir a tarefa pela idade e pela doença-
Mais ou menos o que já dizia no P. S. desta carta. Creio, po-
rém, que a verdadeira causa de não ter acabado o trabalho
é a que se depreende da carta a Vitorino da Mota, publicada
na revista portuense A /Ilustração Moderna (1901, n.'" 8-9)
— a convicção em que Camilo estava de que os editores acei-
tavam a obra para honrar o compromisso, mas contrariados
por duvidarem do êxito da edição.
X
Nesta carta e na seguinte há referências a Miguel Máximo.
Creio que se trata de Miguel Máximo da Cunha Monteiro
que ao tempo era deputado e que em 1890 foi par do reino,
electivo. E' também o mesmo, segundo julgo, que foi cari-
caturado a pags. 404 e 407 do 2." ano do António Maria.
No 1." ano, pags. 78 e 83, há também referências á mesma
pessoa.
XI
(V. nota anterior).
112
XII
Fala Camiilo do seu cunhado médico. E' o Dr. Francisco
José de Azevedo, nascido em 1812 e falecido em 1867. A
seu respeito, veja-se o cap. I do Camiilo e os Médicos, do
ilustre escritor e investigador sr. Dr. Maximiano Lemos.
No capítulo Impressão indelével, das Duas Horas de
Leitura, descreve Camiilo um curioso episódio em que fi-
gura o Dr. Azevedo. Essa narrativa só aparece a partir da 2.^
edição (1858).
Os filhos do médico, sobrinhos de Camiilo, são os conse-
lheiros António e José de Azevedo Castello Branco. O pri-
meiro, já falecido, publicou em 1885 o livro de versos L{^ra
Meridional, a respeito do qual Camiilo escreveu um artigo no
n.° 3 dos Seroens de S. Miguel de Seide, de que se fez uma
edição em separado, muito rara por a tiragem sar apenas de
40 exemplares.
O segundo ainda vive e tem também um livro de versos
intitulado Ao cahir da Folha.
Ambos foram políticos, tendo ocupado as mais altas situa-
ções durante o antigo regime.
Na carta LXX volta Camiilo a referir se ao sr. conselheiro
José de Azevedo.
Xlli
Refere-se esta carta ao Dr. Joaquim Alves Matheus que
foi cónego da Sé de Braga, grande orador sagrado e figura
de relevo na política do seu tempo.
Segundo vejo no Boletim da Biblioteca Pública e do
Arquivo Distrital de Braga (1920 - vol. I, pag. 61), foi êle
o autor do artigo publicado em 1866 no Partido Liberal, jor-
nal bracarense, em que Fr. Barolomeu dos Mártires era acu-
113
sado de traidor à Pátria, artigo que originou uma viva polé-
mica em que Camilio interveio.
Os documentos dessa questão estão compilados em dois
opúsculos: D. Fr. Bartholomeu dos Martyres ea Usurpa-
ção dos Filippes e O Patriotismo de Fr. Baitolomeu
dos Martyres.
O primeiro foi publicado em Braga, em 1895; o segundo
é impresso no Porto e não tem data.
Participa Camilio nesta carta a morte de Manuel, o filho
do primeiro casamento de D. Anna Plácido, falecido em 17
de Setembro de 1877, aos dezanove anos de idade. A essa
data se referem os versos Se me lembro!. . ., publicados na
Bohemia do Espirito.
Refere-se depois à visita de Castilho. Foi em 15 de Julho
de 1866 que se realizou essa visita que foi comemorada por
D. Anna com uma pirâmide de granito levantada num recanto
da quinta de Seide.
Castilho foi acompanhado por seu filho Eugénio, por Vieira
de Castro e por Thomaz Ribeiro que escreveu seis quadras
que os filhos de Camilio ofereceram com uma coroa de lou-
ros ao poeta, quando se inaugurou o monumento. Esses ver-
sos estão publicados nos Sons que passam e a eles se re-
fere Camilio na Bibliographia Portugueza e Estrangeira
(3.° ano, n.° 1), no artigo que escreveu quando saiu a 3.'^ edi-
ção do livro de Thomaz Ribeiro.
Na carta LXIII, escrita na Póvoa de Varzim, onde mor-
reu Manuel Plácido, volta Camilio a falar da festa de Seide,
realizada 19 anos antes e não 17 como diz a carta.
XIV
(V. nota anterior).
114
Custódio José Vieira é o grande orador, falecido em 1879.
Amigo íntimo de Camillo, padrinho de seu filho Nuno, fer-
vente tribuno, jornaUsta virulento, como diz o seu amigo,
era um coração generoso, uma grande alma.
No Discurso Preliminar das Memorias do Cárcere,
Camillo consagra algumas das suas melhores páginas a esse
homem que a meio caminho da vida tinha a mimosa sen-
sibilidade dos quinze annos.
XVIII
Esta carta apresenta o médico e escritor José Augusto
Vieira, autor, ao tempo, das Phototipias do Minho, publica-
das em 1879.
Vieira defendeu tese em 19 de Julho de 1880.
Em 1881 publicou o romance A Divorciada.
Em 1886-87 saiu a sua grande obra, O Minho Pitforescc.
Foi a última. Uma tísica galopante matou-o aos 34 anos, em
1890.
XIX
Trata do casamento do Nuno com a mulher que raptara.
O rapto — o processo irregular — foi minuciosamente his-
toriado pelo sr. Alberto Pimentel, a pag. 385 e seg. do seu
livro Os Amores de Camillo.
XX
Esta carta, como a anterior, refere se ao casamento de
Nuno, a que iriam assistir a filha de Camillo e os seus.
115
Trata-se da Ex.'^' Senhora D. Bernardina Amélia Castello
Branco de Carvalho, felizmente ainda viva. Vem a propósito
dizer que foi justamente Nuno que, depois da morte do pai,
escreveu um deplorável opúsculo contestando que aquela
senhora fosse filha de Camillo.
Em outras cartas há referências a essa filha sempre reco-
nhecida por seu pai e pelas outras pessoas da família en-
quanto êle viveu. . .
XXVíI
Esta carta trata exclusivamente do poeta Donas Boto a
quem Camillo consagrou 23 páginas do Cancioneiro Alegre.
Pede agora uma colocação para o pobre velho que nunca
utilizara as suas cartas de doutor médico por Lovânia e de
bacharel legista por Coimbra.
O pedido encontrou eco no coração de Thomaz Ribeiro
que, em 15 de Fevereiro de 1883, sendo ministro do reino,
nomeou Boto para o lugar de sub-inspector primário em
Aveiro.
Na carta XXXIII agradece Camillo ao seu amigo a no-
meação do protegido por quem tanto se interessara. Em ou-
tras cartas ainda volta a ocupar-se do mesmo assunto.
A respeito desta singular personagem, como lhe chama
o sr. Dr. Maximiano Lemos, é de ler com proveito o cap. IV
do livro Camilo e os Médicos, que já citei e que é uma das
boas obras sobre Camillo.
XXIX-XXX
(V. a nota anterior).
XXXI
Há nesta carta referências a Magalhães Coutinho e a
116
Biester. Devem ser, o primeiro, o médico ilustre que foi bi-
bliotecário da Ajuda, e, o segundo, o dramaturgo Ernesto
Biester que dos romances de Camillo Vingança e Mysferios
de Lisboa extraiu os dramas Vingança e A Penitência.
Quanto ao assunto da carta, nada pode dizer o anotador
por inteiramente o desconhecer.
XXXII
Trata esta carta do sr, Manuel de Ascensão Espinho que
é hoje um distinto funcionário superior de finanças, dirigindo
uma das repartições de Lisboa.
Grande amigo de Camillo, foi um dos raros que acompa-
nharam o seu cadáver desde Seide ao cemitério da Lapa.
A bala do suicida não foi para o sr. Espinho, como para
tantos outros, o ponto final da gratidão e da amizade. S. Ex.*
tem ainda hoje pela memória de Camillo o mesmo respeito
que teve em vida pelo seu protector, acrescido apenas da viva
saudade pelo seu grande amigo.
Em 1887 publicou um opúsculo sobre matéria da sua es-
pecialidade, com dedicatória e uma carta a Camillo.
Creio que é raro porque até hoje só vi o meu exemplar
que obtive com dificuldade.
Para elucidação dos camilianistas, aqui fica registado o
título : Compilação alphabetica dos regulamentos das con-
tribuições de decima de juros, renda de casas e sumptuá-
ria, approuados por decreto de 8 de setembro de 1887 —
por Manoel d'Ascenção Espinho (escrivão de fazenda da Po •
voa de Varzim) — Porto. Imprensa Civilisação — 1887.
Na carta XXXIV agradece Camillo o despacho do seu re-
comendado.
XXXIII
(V. nota XXVII).
117
XXXIV
(V. nota XXXII).
XXXV
Aqui fala Camillo do seu trabalho O Vinho do Porto que
já não poderá concluir.
Na carta seguinte, escrita três dias depois, diz que o livro
já está no prelo.
Na carta XL refere-se outra vez ao trabalho então em
via de publicação, excedendo já as 40 páginas do projecto e
indo já em 90.
Efectivamente o opúsculo publicou se com 87 páginas e a
data de 20 de Abril de 1884.
No título definitivo há uma diferença em relação ao que
vem na carta : processo de uma bestialidade e não pro-
cesso da bestialidade.
XLI
Refere se esta carta largamente à revista Republicas, en •
tão em projecto. Saiu o 1.° número em 6 de Dezembro de
1884, sob a direcção de Thomaz Ribeiro. A partir do n.° 3,
figura este como director político e Camilo aparece como
director literário. Publicou-se esta revista até 1887, segundo
creio.
A ela se refere Camillo noutras cartas.
O folheto de que fala na parte final da carta é, talvez, o
Suicida, publicado em 1880, em que Camillo refundiu com
ligeiras alterações dois artigos anteriores a respeito de Elisa
Loeve-Weimar, senhora que se suicidou no Porto em 1875,
sendo casada com José Joaquim Gonçalves Basto, conhecido
118
por o Basto do «^Nacional» por ser o fundador e proprietá-
rio deste jornal portuense.
Gonçalves Basto esteve emigrado em Londres, o que me
faz supor que é a êle que Camillo se refere na cart^ embora
desconheça completamente o facto relativo a Garrett.
XLIV
Depois de considerações humorísticas sobre a instrução
do sexo feminino e suas vantagens, cita Camillo uma Canuto.
Deve ser a poetisa D. Maria José da Silva Canuto, falecida
em 1890, que à data da carta em que Camillo encarrega Tho-
maz Ribeiro de indagar da sua vida, era já septuagenária,
pois nascera em 1812.
Mais abaixo fala da questiúncula com Oliveira Martins.
Trata se da discussão com o historiador no jornal O Pri-
meiro de Janeiro, a propósito do folhetim de Camillo O Pa-
raguay da Europa, publicado em 17 de Julho de 1884. Oli-
veira Martins respondeu no jornal de 22 e Camillo repHcou
em 24.
Mais tarde os três folhetins foram reproduzidos na Bohe-
mia do Espirito com o título Os Jesuitas e a Restauração
de 1640.
Houve ainda uma troca de cartas entre os dois escritores.
Foram pubHcadas recentemente nos n."^ 74 e 80 da revista
/\ 5 C. E' de notar que nessa revista se dá a carfa de Ca-
millo como respondendo à de Oliveira Martins, o que é o con-
trário da verdade : Camillo é que escreveu primeiro, no dia
25 de Julho, dia seguinte ao da publicação do último artigo.
Oliveira Martins respondeu. Assim é que fica certo.
XLVI
E' de 6 de Janeiro de 1885 o telegrama que acompanha
esta carta e no qual o título do jornal Republicas apareceu
transformado em Republicanos.
119
XLIX
V/oIta nesta carta Camillo a falar das Republicas, fazendo
ver ao seu amigo os defeitos da revista e prognosticando-lhe
'um péssimo futuro.
Refere- se a Magalhães Coutinho que para lá escreveu
um artigo. Deve ser o mesmo que aparece na carta XXXI.
O Cordeiro, esse bom homem que tem a immortalidade
da Douda d'Albano, é o poeta António Xavier Rodrigues
Cordeiro, autor duma poesia com aquele título, bem conhecida
das selectas. Na parte final da carta expõe o seu plano duma
nova revista em que colaborariam Caldas, que suponho ser o
sr. ]osé Caldas, escritor ilustre, e D. Maria Amália Vaz de
Carvalho, pessoas por quem Camillo sempre manifestou grande
consideração literária.
LII
O prefácio e o post-scriptum da Maria da Fonte foram
ambos publicados nas Republicas, o primeiro no n." 13 e o
segundo no n.° 18.
LIII
Continua nesta carta a mostrar o seu descontentamento
quanto à revista, à sua orientação e aos colaboradores. Aquele
Castilho, com rouxinoes em pleno inverno, é Júlio de
Castilho que no n.° 10 publicou a poesia Primavera no in-
verno.
Os contos de Lanhoso do Romeu devem ser os que
começaram no n." 9, com o titulo No Castello de Lanhoso.
O autor é Soares Romeu Júnior, fecundo escritor que pu-
blicou vários livros dos quais os mais conhecidos são Armas
e Lettras e Nas Margens do Minho. De passagem fala
120
ainda de Xavier Cordeiro, o mesmo da carta XLIX, e do ar-
queólogo Vilhena Barbosa.
Fala depois dos colaboradores desejáveis, aqueles que a
revista devia ter se pudesse pagar e dispensar a colabora-/
ção gratuita, as empadas requentadas que solicitam a puí
blicidade. ' '
Entre esses, os raros, lá vem Eça de Queiroz.
Com vista a cerlos admiradores de Camillo, que, por o se*
rem, entendem que devem embirrar com o Eça. . .
LVII
Nesta carta pede indicações sobre a forma de escrever
ao rei, agradecendo o título de visconde.
Thomaz Ribeiro enviou-lhas em carta que vem mencionada
no livro Camillo Homenageado, com o n.° 819, e que ter-
mina com esta saudação : Aue, Camillo, cheio de graça !
A carta que Camillo escreveu a D. Luís está publicada a
pag. 191 do citado livro.
LXIII
(V. nota XIII).
LXV
Nesta carta volta Camillo a pedir por Donas Boto que
estava a terminar o íriénio em Aveiro (V. nota XXVII) e que
desejava não ser transferido. Desta vez não foi atendido, cer-
tamente por oposição da lei; por decreto de 12 de Abril de
1886 o bom velho era transferido para Elvas.
121
LXVII
Promete Camillo nesta carta escrever nos Seroens uma
crítica da tradução do Othello, feita por D. Luís, mas logo
mudou de ideas e escreveu o opúsculo Esboço de Critica
- Othello..., datado de 16 de Fevereiro de 1886, vinte
dias passados sobre a data da carta. Na carta seguinte já se
refere a esse trabalho. Parece, porém, que durante algum
tempo ainda pensou em fazer a republicação nos Seroens, re-
solvendo por fim não a fazer, como se vê na carta LXIX.
Na carta LXX fala outra vez do trabalho que darâlSO
páginas, como, de facto, deu, e finalmente na LXXI anuncia
a remessa de dois exemplares.
Ainda na carta a que respeita esta nota vem o protesto
de Camillo contra o seu retrato publicado na I Ilustração Por-
tugueza.
O retrato vem no n.° 28 do 2.° ano dessa revista, corres-
pondente a 25 de Janeiro de 1886. E' o conhecido retrato
que representa o escritor vestindo um casaco de gola de pe-
les.
(V. nota anterior).
LXVIII
LXIX
(V. nota LXVII).
O Bruschy de quem Camillo fala nesta carta, é o Dr. Ma-
nuel Maria da Silva Bruschy, um dos mais distintos juriscon-
sultos portugueses, pai do sr. Silva Bruschy, secretário geral
do Ministério das Finanças aposentado e director do Banco
Colonial, justamente considerado pela sua alta capacidade in-
telectual e pelas suas qualidades de perfeito homem de bem.
122
LXX
(V. nota LXVII).
Refere-se Camillo outra vez a seu sobrinho José (V/. nota
XII). Fala também de Elvino, certamente Elvino de Brito,
então deputado e, mais tarde, par do reino e ministro, falecido
em 1902, salvo erro.
LXXI
(V. nota LXVIÍ).
Participa Camillo nesta carta que mandou comprar um ju^
mento no campo de Coimbra.
O encarregado da escolha e compra do animal foi o Dr.
Adelino das Neves e Melo que então residia naquela cidade.
São interessantíssimas as cartas que, sobre o assunto, Camillo
escreveu ao seu amigo e que este publicou em 1899 no seu
opúsculo Senilia, impresso no Pará.
Depois de redigida esta nota foram essas cartas reprodu-
zidas no livro do Dr. Teixeira de Carvalho, Dois Capítulos
sobre Camillo Castello Branco.
LXXII
• O médico Soares Ferreira, mencionado na carta, é o Dr.
António Augusto Soares Rodrigues Ferreira, falecido em
1908, Foi deputado na legislatura de 1880-81, sendo então
colega de Thomaz Ribeiro, como diz Camillo. No capítulo
XXXIX do excelente Camilo e os Médicos, do Dr. Maxi-
miano Lemos, encontrará o leitor notícia deste médico.
O juiz por quem Camillo pede nesta e noutras cartas é o
Dr. ]osé Maria de Andrade que veio a ser juiz da Relação de
Lisboa. Escreveu uma monografia sobre o mosteiro de Celas
(Coimbra).
(V. nota anterior).
123
LXXIII
LXXIV
(V. nota anterior).
Esta carta foi escrita por D. Anna Plácido, como se diz,
mas assinada por Camillo.
LXXV
(V. nota LXXII).
Esta carta foi toda, incluindo a assinatura, escrita por D.
Anna que no P. S. falou em seu próprio nome.
LXXVI
Nesta carta e noutras das que se seguem trata Camillo,
com grande interesse, da concessão do título de fornecedora
da Casa Real à Chapelaria Universal, de Victor & Coutinho.
Essa chapelaria tinha, em 1885, lançado no mercado di-
versos modelos de chapéus, sendo alguns consagrados com
os nomes de homens notáveis, nacionais e estrangeiros. O jor-
nal Commercio e Industria, no seu n.° 58, acusa a recepção
da primeira série dos respectivos figurinos em fototipia, em
número de dezoito.
Um deles é o que tem o nome de Camillo.
Parece que Thomaz Ribeiro também mereceu essa dis-
tinção, como se vê pela carta.
Devia ser sócio da casa o sr. Henrique Coutinho que
naquele mesmo ano ofereceu a Camillo um chapéu que o ro-
124
mancista agradeceu numa curiosa carta de 26 de Março, re-
colhida por Cardoso Marta no primeiro volume da sua colec-
ção, a pag. 164.
LXXV/IILXXVIII-LXXXIII
(V. nota anterior).
LXXXV
Trata esta carta do internamento de Jorge no hospital do
Conde de Ferreira, onde esteve de 2 de Agosto a 27 de Ou-
tubro de 1886.
O Dr. Senna, falado na carta, é o Dr. António Maria de
Senna que foi o primeiro director daquele manicómio.
Desse grande alienista se ocupa largamente o Sr. Dr. Ma-
ximiano Lemos no citado Camilo e os Médicos, cap. XXXI.
LXXXVII
(V. nota LXXVI).
LXXXVIII
Trata esta carta da questão dos livreiros, a demanda le-
vantada pelos livreiros Lugan & Genelioux a propósito da pu-
blicação da Bohemia do Espirito. Sobre o caso apareceram
três folhetos curiosos. São A Diffamação dos Livreiros, de
Camillo, e A Defeza dos Livreiros e A Propriedade Litte-
raria, publicados por aquela firma.
125
LXXXIX
A Custodia, era uma cantadeira de Famalicão.
A ela se refere o Sr. José de Azevedo e Menezes numa
nota a pag. 173 do Camillo Homenageado.
XC-XCI
A poesia a que se referem estas cartas tem o título Re-
signação e foi publicada em 14 de Janeiro de 1887, no n.°
343 do jornal O Imparcial, precedida duma apresentação de
Thomaz Ribeiro.
Tanto a poesia como as palavras que a precedem saíram
sem assinatura.
Foram depois reproduzidas no livro Óbolo ás Creanças,
acompanhadas dumas Confidencias em que Joaquim Ferreira
Moutinho revela os nomes dos autores.
Henrique Marques trata deste caso no n." 588 da sua
preciosa Bibliographia Camilliana.
XCIII
A propósito duma pendência dum dos seus sobrinhos, fala
Camillo do duelo com Ricardo Browne.
Desse episódio da turbulenta mocidade de Camillo tratou
com desenvolvimento o sr. Dr. António Cabral no cap. III do
seu belo livro Camillo de Perfil e a pag. 106 107 do seu
Camillo desconhecido, obra indispensável a quem queira
conhecer a vida do Mestre.
126
xcv
Nesta carta refere se ao seu casamento com D. Anna —
a tolice matrimonial — que ainda se não fizera e que veio
a realizar-se em 9 de Março de 1888.
XCVI
Esta carta foi assinada por Camillo e escrita por outra
pessoa.
XCIX
A carta é escrita por D. Anna. Fala de Freitas Fortuna
que é o grande amigo de Camillo, João António de Freitas
Fortuna, proprietário do jazigo onde ainda está o seu cadá-
ver.
Foi o editor do raríssimo livro Horas de Lucta, de que
se tiraram 32 exemplares.
Foi assinada por Camillo e escrita pela mesma pessoa que
escreveu a XCVI. Há nesta carta largas referências ao Dr.
Gama Pinto, o ilustre oftalmologista que visitou Camillo em
1888, Veja-se o citado Camilo e os Médicos, pag. 601 eseg.
Cl
O António Vaz de Nápoles, falado nesta carta, deve ser
a pessoa que escreveu as XCVI e C.
127
cm
Foi escrita e assinada por D. Anna.
CIX
Foi escrita por D. Anna e assinada por Camillo.
CXI
Esta carta é toda, incluindo a assinatura, do punho de D.
Anna.
Trata da pensão concedida a Jorge. A pensão foi estabe-
lecida pelo decreto de 23 de Maio de 1889 que não a isentava
de impostos, pelo que Camillo pede a Thomaz Ribeiro que
na Câmara dos Pares faça a respectiva proposta.
Em 3 de Junho o governo apresentava ao Parlamento
uma proposta de lei confirmando aquele decreto. No mesmo
dia a comissão de fazenda da Câmara dos Deputados dava o
seu parecer favorável com o aditamento relativo á isenção
de impostos, talvez a pedido de Thomaz Ribeiro.
No dia 4 foi o projecto aprovado por aclamação, por pro-
posta de João Arroio.
Transitando o projecto para a câmara alta, a respectiva
comissão de fazenda dava parecer favorável no dia 6 e no
dia seguinte era o projecto aprovado também por aclamação
como propôs Thomaz Ribeiro.
No livro O Romance do Romancista do sr, Alberto Pi-
mentel, vem a descrição minuciosa do que se passou nas duas
câmaras a respeito deste projecto.
128
CXII-CXIII
Ambas são escritas e assinadas por D. Anna.
CK\J
Esta carta fói escrita em Carnaxide.
CXVII
O livro de Guilhermino de Barros a que nesta carta se
refere Camillo, foi publicado em 1894. Na Bohemia do Es-
pirito, pag. 203 e seg., vem o perfil literário deste escritor e
amigo de Camillo. Na revista A A'guia foram publicadas al-
gumas cartas que Camillo lhe escreveu.
CXVIII
Escrita e assinada por D. Anna.
CXIX
A letra é de D. Anna, menos na assinatura que é de Ca-
millo.
Pede a Thomaz Ribeiro que procure editor para o Exter-
minio da Inglaterra. De tal poema vieram a lume, segundo
creio, apenas dois fragmentos. Um deles — 18 quadras — foi
publicado no Anathema, número único que saiu em 1890,
em Coimbra, de protesto contra o ultimalum.
O segundo — 38 quadras — apareceu no jornal A Repu-
blica, do Porto, em 22 de Abril do mesmo ano.
129
Êsíe foi reproduzido no n.° 2 da publicação O BibliQphíh
(Porto, 1909) e os dois foram recolhidos por João Paulo
Freire (Mário) na 2.^ edição do seu Entre Gigantes! (1917).
Parece que Camillo chegou a completar o poema porque
no museu de Seide existe um manuscrito encadernado, com
versos e aquele título, segundo informa o Camillo Homena-
geado. Refere- se a carta ao Mensageiro. Dessa publicação
de Thomaz Ribeiro saíram, creio, apenas três números.
O primeiro — Carta d' Alforria — publicou-se em 1889,
em homenagem a D. Pedro, Imperador do Brasil, que aca-
bava de ser destronado.
O segundo — A Patrícia — é de 1890, a propósito do
ultimaíum.
O terceiro — Senhor, Não ! — saiu em 1897, a respeito
do então próximo centenário da índia.
No n.° 1 vem uma carta de Camillo.
Desse mesmo número, mas só da parte escrita por Tho-
maz Ribeiro, fez se em 1895 uma edição no Rio de Janeiro.
Fala ainda a carta do Dr. Rebelo da Silva que foi um dos
médicos que Camillo consultou. Do conhecido homeopata se
ocupa o sr. Dr. Maximiano Lemos, a pag. 632 e seg. do Ca-
milo e os Médicos.
CXK
Esta carta é escrita e assinada por letra que não é de D.
Anna nem da pessoa que escreveu as cartas XCVI e C.
Deve ser esta a última carta porque é datada de 16 de
Maio de 1890, isto é, a duas semanas da morte de Camillo.
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